Antes do Nascimento
Antes de dar à luz a seu filho, a rainha Mahamaya, que
viria a ser a mãe de Buda, sonha que um magnífico elefante branco com seis
presas desceu dos céus cercado por coros de preces espirituais. O elefante se
aproximou dela, que pôde ver que o elefante tinha pelos brancos como a cor da
neve. Ele carregava uma flor de lótus cor de rosa em sua tromba e colocou a
flor dentro do corpo da rainha. Então, o elefante também entrou nela sem
esforço e, de uma vez por todas, ela se encheu de profundo bem estar e alegria.
Ela teve a sensação de que jamais conheceria qualquer
sofrimento novamente, ou preocupação, ou dor, e acordou envolvida por uma
sensação de pura bênção. Quando se levantou da cama, a música etérea (sutil) do
sonho ainda ecoava em seus ouvidos.
A rainha Mahamaya, então, conta a seu marido, o rei
Sudodana, sobre o sonho, e ele também ficou maravilhado. Naquela manhã, o rei
convocou todos os homens santos da capital para virem ao palácio e
interpretarem o sonho da rainha.
Após escutarem atentamente o sonho da rainha, eles
responderam que a rainha daria à luz um filho que seria um grande líder. Eles
disseram que seu filho estava destinado a tornar-se um poderoso imperador, ou
um grande professor que mostraria o Caminho da Verdade para todos os seres nos
céus e na terra. Eles disseram ao rei que a terra, há muito aguardava o
aparecimento de tamanho Grande Ser.
Nascimento de Buda
A mãe de Sidarta, a rainha Mahamaya, era uma mulher de
grande virtude, cujo amor estendia-se a todos os seres – pessoas, animais e
plantas. Era costume, naqueles dias, a mulher retornar á casa de seus pais para
dar à luz. Mahamaya era do país chamado Kolia; assim, ela rumou para Ramagama,
a capital de Kolia.
Ao longo do caminho, parou para descansar nos jardins de
Lumbini. A floresta ali estava repleta de flores e pássaros cantando. Pavões
exibiam suas esplêndidas caudas a luz da manhã. Admirando uma árvore (Ashoka)
em completo florescimento, a rainha andou em direção a ela quando de repente,
sentindo-se desequilibrar, agarrou-se a um galho da árvore. Um instante mais
tarde, ainda segurando-se ao galho, a Rainha Mahamaya deu à luz um radiante
menino.
O príncipe recém-nascido foi banhado em água fresca e
embrulhado em linho amarelo pelas auxiliares de Mahamaya. Como não havia mais
necessidade de retornar à Ramagama (casa dos seus pais), a rainha e seu
príncipe recém-nascido foram levados de volta ao palácio.
Ao saber da notícia, o rei Sudodana correu para ver sua
esposa e filho. Sua alegria era imensa e ele deu ao menino o nome de Sidarta –
“aquele que realiza o seu propósito”. O rei não perdeu tempo em convocar
adivinhos para pressagiarem sobre o futuro de Sidarta. Após examinarem as
feições do menino, todos concordaram que ele carregava as marcas de um grande
líder.
Uma semana mais tarde, no entanto, um homem santo chamado
Asita kaladevala fez uma visita ao palácio. Quando os guardas anunciaram a
chegada de Asita, o rei Sudodana pessoalmente veio recebê-lo. Ele o levou para
ver o bebê príncipe. O homem santo olhou por um bom tempo para o menino sem
dizer uma única palavra. Então, começou a chorar, e seu corpo tremia apoiado no
cajado. Uma torrente de lágrimas escorria dos seus olhos. O rei Sudodana ficou
alarmado e perguntou se o homem santo havia antevisto algum infortúnio para a
criança. Mestre Asita removeu as lágrimas e disse que seu pranto se dirigia a
ele mesmo, pois pode ver claramente que aquela criança possuía uma verdadeira
grandeza. “Essa criança penetrará todos os mistérios do universo” disse o
mestre. “Sua majestade”, disse Asita, “seu filho será um grande Mestre do
Caminho. Choro porque morrerei antes de ter a chance de ouvir sua voz proclamar
as verdades que ele irá realizar”.
A visita de Mestre Asita deixou o rei perturbado. Ele não
queria que seu filho se tornasse um monge. Desejava que seu filho assumisse seu
trono e ampliasse as fronteiras do reino. O rei então pensou que Asita fosse só
mais um entre centenas ou mesmo milhares de homens santos. Talvez sua profecia
estivesse errada. Certamente, o outro homem santo, cuja previsão diz que
Sidarta será um grande Imperador, deve estar correta. Apegando-se a esta
esperança, o rei se consolou.
Oito dias após ter tido a sublime alegria de ser mãe de
Sidarta, a Rainha Mahamaya veio a falecer. O rei Sudodana chamou a cunhada
Mahapajapati e pediu-lhe para tornar-se a nova rainha. Mahapajapati, também
conhecida como Gotami aceitou, e cuidou de Sidarta como se ele fosse seu
próprio filho. Sob os cuidados de Gotami, Sidarta desenvolveu-se forte e
saudável.
Idade escolar
Quando Sidarta atingiu a idade escolar, estudou literatura,
escrita, música e atletismo com os outros príncipes da dinastia Sakya. Naturalmente
inteligente, Sidarta dominava suas lições rapidamente. Seu professor,
Vishvamitra jamais tinha ensinado a um aluno mais impressionante do que
Sidarta.
Sidarta na adolescência
Quando
Sidarta completou quatorze anos, a Rainha Gotami deu à luz um filho, chamado
Nanda. Todo o palácio se alegrou, incluindo
Sidarta, que ficou muito feliz em ter um irmão mais novo.
Sidarta tinha três outros primos, além de Devadata e
Ananda, de que gostava bastante, chamados Mahanama, Badia e Kimbila.
A cada ano, Sidarta se desenvolvia ainda mais em seus
estudos. Dominava cada assunto com facilidade, incluindo as artes marciais. Mas
era na música que Sidarta se destacava. Seu professor de música lhe deu uma
flauta rara e Sidarta passava as tardes de verão sentado nos jardins tocando
sua flauta.
De acordo com sua idade, Sidarta se concentrou mais
intensamente nos estudos religiosos e filosóficos. Ele foi apresentado aos
Vedas e ponderou acerca do significado dos ensinamentos e crenças por eles
expostos. Devotou estudo especial ás escrituras do Rigveda e Atharveda.
Grande atenção foi dada aos textos sagrados do Bramanismo,
incluindo Bramanas e os Upanishads.
Desde que foi dada ao jovem Sidarta permissão para convidar
algumas crianças pobres do campo para o seu piquenique real, ele também tinha
sido autorizado a visitar, de tempos em tempos, as pequenas vilas que
circundavam a capital. Por falar diretamente com o povo, Sidarta aprendeu
muitas coisas que jamais tinham sido mostradas a ele no palácio, Estava ciente,
é claro, de que o povo servia e adorava as três deidades do Bramanismo –
Brahma, Visnu e Shiva. Também aprendeu, porém, que o povo era manipulado e
oprimido pelos sacerdotes brâmanes. Em função de fazerem rituais apropriados
para nascimentos, casamentos e funerais, os pobres eram forçados a pagar os
brâmanes com comida, dinheiro, e até mesmo com trabalho braçal, de tão
desprovidos de recursos que eram.
Como resultado de suas próprias reflexões, Sidarta começou
a questionar alguns dos ensinamentos fundamentais do Bramanismo: por que os
Vedas davam exclusividade à casta dos brâmanes; Por que Brahma era o supremo
regente do universo; e qual era o poder onipotente que as preces e rituais
possuíam. Sidarta simpatizava com aqueles sacerdotes e brâmanes que ousavam desafiar
diretamente estes dogmas.
Sidarta
queria muito encontrar e ter conversas com eremitas e monges, mas seu pai desaprovava isso, e ele teve de achar
desculpas para ir a outras excursões na esperança de encontrar-se com aqueles
sábios. Tais monges não ligavam para posses materiais ou status social,
diferentes dos brâmanes que amplamente visavam ao poder. Ao invés disso, os
monges abandonavam tudo a fim de buscar liberação e cortar as amarras que os
ligassem aos lamentos e preocupações do mundo. Eram homens que haviam estudado
e penetrado o significado dos Vedas e Upanishads. Sidarta sabia que muitos
eremitas viviam em Kosala, o reino vizinho a oeste, e em Magada, ao sul. Ele
esperava que, um dia, pudesse ter a chance de visitar estas regiões e estudar
seriamente com homens tais como aqueles.
Nesta ocasião, Dronodanaraja, irmão de Sudodana e pai de
Devadata e Ananda, falou para o irmão que ele deveria encontrar uma esposa para
Sidarta. Uma vez que tenha uma família a ocupa-lo, abandonaria seu desejo de
ser monge. O rei Sudodana concordou com a ideia. Gotami, apesar de ter dado a
luz recentemente a princesa Sundari Nanda, iniciou a organizar reuniões para
jovens do reino. Sidarta logo se juntou a estas tardes de música, eventos
atléticos e viagens aos campos, com entusiasmo, e fez muitos novos amigos,
tanto homens como mulheres jovens.
O Rei Sudodana tinha uma irmã mais jovem chamada Pamita,
cujo marido era o Rei Dandapani, de Kolia. Sakia e Kolia eram separados apenas
pelo rio Rohini, e seus povos estavam unidos por várias gerações.
A pedido de Gotami, o rei e a rainha de Kolia aceitaram
organizar uma competição de artes marciais no amplo campo que beirava o lago
Kunau. Yasodara, que viria ser a futura esposa de Sidarta entregaria o prêmio
aos ganhadores. Como Sidarta ganhou a maioria dos eventos, incluindo manejo de
espadas, arco, carreira de cavalo e levantamento de peso, eles tiveram o
primeiro contato, quando a princesa Yasodara entregou a ele o prêmio: um
elefante branco.
Nessa época (adolescência), Sidarta achava a vida no
palácio muito entediante; então começou a excursionar além dos limites da
cidade para ver a vida lá fora. Estava sempre acompanhado por Chana, seu
devotado servo e, às vezes, também por seus amigos e irmãos.
Explorando o Reino Sákia
Sidarta visitou cada canto do reino Sákia, desde o
acidentado sopé das montanhas dos Himalaias, ao norte, até as grandes
planícies, ao sul. A capital, Kapilavastu, situava-se na região mais rica e
povoada das terras baixas.
Sákia, comparada com os reinos vizinhos era menor, mas
tinha excelente localização. Os rios Rohini e Banganga, que nasciam nas terras
altas, desciam para irrigar suas ricas planícies. Esses rios se juntavam ao rio
Hiranyavati antes de desaguar no Ganga. Sidarta adorava sentar-se nas margens
do rio Banganga e ficar olhando os fluir das águas.
Os moradores ribeirinhos acreditavam que as águas do
Banganga podiam lavar o mau carma, tanto da vida presente quanto das vidas
pregressas e, assim, com frequência, mergulhavam nele, mesmo a temperaturas
congelantes. Um dia, enquanto estava sentado ao longo da barranca junto com seu
servo, Sidarta perguntou: “Chana, você crê que as águas deste rio podem levar
embora o carma negativo”¿ “Deve ser assim, Alteza, pois de outro modo, por que
tantas pessoas viriam aqui para se lavarem”¿ Sidarta sorriu. “Bem, então, o
camarão, o peixe e as ostras que passam suas vidas inteiras submersos nestas
águas devem ser as criaturas mais puras e virtuosas de todas”!
Yasodara
Noutro dia, quando retornava ao palácio, Sidarta ficou
surpreso ao ver Yasodara em uma pequena e pobre vila, acompanhada de uma de
suas servas, cuidando de crianças que sofriam de doenças dos olhos, gripes,
desordens de pele e outros desequilíbrios. Naquele dia, Sidarta teve tempo de
conversar com Yasodara por longo tempo e ficou surpreso em saber que ela
compartilhava de muitas de suas ideias.
Yasodara sabia que, como mulher, não poderia conseguir
grande mudança social; assim, havia encontrado um jeito de expressar as suas
convicções através do trabalho com caridade. Esperava que seus amigos pudessem
ver o valor das suas ideias através do seu exemplo.
Desde o dia em que a vira pela primeira vez, Sidarta havia
sentido uma afinidade especial por Yasodara. Seu pai havia manifestado o desejo
de que ele se casasse logo.
Casamento com Yasodara
O casamento com Yasodara aconteceu no outono seguinte. O
pai de Sidarta, o rei Sudodana, supervisionou a construção de três palácios
para o jovem casal – o palácio de verão, da estação chuvosa e do inverno. O rei
Sudodana estava em paz, agora que Sidarta tinha seguido o caminho que desejava
para seu filho.
A felicidade para Sidarta e Yasodara não vinha de uma vida
pomposa, de prosperidade e posição social, mas de abrirem seus corações e
compartilharem seus mais profundos pensamentos um com o outro. Tinham seus
próprios sonhos – encontrar respostas relacionadas à busca espiritual e à
renovação da sociedade.
Entrando em contato com o sofrimento
Sidarta, sempre acompanhado pelo seu servo Chana, levou
Yasodara para conhecer vários lugares do reino que ela não conhecia. Ficaram
vários dias em cada localidade, algumas vezes passando à noite em casas comuns,
do povo, partilhando da comida simples e dormindo em camas de cordas trançadas.
Às vezes, eles encontravam uma miséria terrível, famílias
com nove, dez crianças marcadas pela doença. Ele percebia que o sofrimento ia
de mãos dadas com a vida dos camponeses. Sidarta viu crianças com braços e
pernas tão finos quanto gravetos e barrigas distendidas por vermes e desnutrição.
Ele viu deficientes e debilitados forçados a mendigar nas ruas, e estas cenas
furtavam dele toda e qualquer felicidade.
Há
muito tempo, Sidarta observava as atividades internas da corte real. Cada
oficial tinha interesse em fortalecer e proteger seu próprio poder, não em
aliviar o sofrimento daqueles necessitados. Compreendeu que apenas quando as
pessoas superassem a ganância e a inveja em seus corações, as condições
poderiam mudar. E assim, seu desejo de buscar um caminho de liberação
espiritual reavivou.
Yasodara era brilhante e intuitiva, compreendia as
preocupações de Sidarta e confiava que, se ele resolvesse procurar o caminho da
liberação, acabaria encontrando. Mas, tinha plena consciência que, este caminho
era longo e que deveriam fazer alguma coisa imediatamente, no momento presente.
Yasodara, então, discute com Sidarta formas de aliviar o sofrimento dos membros
mais pobres da sociedade; vinha realizando um trabalho engajado há vários anos
e seus esforços reduziram a miséria de algumas pessoas, o que trouxe um pouco
de paz e felicidade ao seu próprio coração também. Yasodara acreditava que com
suporte amoroso, Sidarta poderia continuar tal trabalho por um longo período.
Sidarta percebeu que as pessoas estavam envolvidas não
apenas em doenças e injustas condições sociais, mas nas ânsias e paixões que
elas mesmas criavam em seus próprios corações e mentes. Ele sabia que alcançar
a paz interior deveria ser o único alicerce para o verdadeiro trabalho social.
segue... Em construção...
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