DHAMMA VINAYA
ESCOLA DE YOGA

BERNARDO PENAFIEL


COMO O YOGA PODE AJUDAR NA DEPRESSÃO NOS IDOSOS?



Trabalho de conclusão de curso apresentado à Escola
Dhamma Vinaya, como requisito para obtenção do
Diploma para dar aulas de Yoga.


Orientador: Guilherme Jenné, Monica Vidigall e Nrsinha


RIO DE JANEIRO – RJ
 2021



RESUMO
Atualmente, a depressão é considerada por muitos o ´´mal do século´´. Na fase da velhice, o indivíduo pode ficar propenso a ter a doença pois, com frequência, se sente inválido e é tratado assim, pela sociedade em geral. Terapias complementares como o Yoga vêm provando sua eficácia significativa na redução e prevenção da depressão. A partir disso, o objetivo deste estudo é mostrar como o Yoga pode ser usado como uma intervenção para o tratamento da depressão nos idosos com basenos resultados de  estudos controlados. Esta análise concluiu que o Yoga é uma intervenção consistente, bem-sucedida e com boa relação custo-benefício no tratamento e prevenção da depressão nos idosos.


ABSTRACT
Depression is now considered by many to be the 'end of the century'. In the oldage stage, the individual may be prone to have a disease because he often feels disabled and is treated like this, by society in general. Complementary therapies like Yoga proving its shortened reduction and prevention of depression. From this, the objective of this study is to show how Yoga can be used as an intervention for the treatment of depression in the elderly based on the results of controlled studies. This analysis  concludes that Yoga is a consistent, well-defined and cost-effective intervention in the treatment and prevention of depression in the elderly.



SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
2. DESENVOLVIMENTO
3. CONCLUSÃO
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 


1. INTRODUÇÃO
O envelhecimento é um processo natural, fisiológico, progressivo e irreversível do desenvolvimento que ocorre com todo ser vivo. Caso o indivíduo tenha hábitos não saudáveis, o processo de envelhecimento torna-se acelerado, o que acarreta diretamente na perda e/ou redução das capacidades físicas e da autonomia funcional do indivíduo, interferindo em sua qualidade de vida.

Além disso, a cultura contemporânea tende a excluir e marginalizar o idoso, tratando-o como um inválido. Com isso, nesse estágio do desenvolvimento, muitas pessoas acabam sentindo-se frustradas, inúteis, irritadas, mal-humoradas, ansiosas, tristes, podendo, muitas das vezes, chegar a uma depressão.

Segundo a American Psychiatric Association (2014), as principais características da depressão são humor triste, vazio ou irritável seguido de alterações cognitivas e somáticas que afetam o funcionamento normal das pessoas de forma recorrente. No diagnóstico, é necessário discriminar a tristeza e luto normais do transtorno depressivo.

Estudos têm produzido evidências empíricas sobre as relações entre o exercício físico e a depressão em idosos. Branco et al. (2015) examinaram os níveis de depressão de idosos antes e após a participação dos mesmos no Programa Nacional de Marcha e Corrida de Portugal com intervalo de seis meses. Os sintomas apresentaram uma grande melhora do pré para o pós-teste.

Ferreira et al. (2014) avaliaram os níveis de depressão de idosos praticantes de diversos tipos de exercícios físicos e concluíram que essas práticas reduziram os níveis de depressão. Bhamani, Khan, Karim e Mir (2015) encontraram que, quanto maior o tempo dispendido às atividades físicas pelos idosos, menores os graus de depressão.

Apesar da American College of Sports Medicine (ACSM) não considerar o Yoga como uma atividade física completa, as modalidades físicas da linha do Hatha Yoga possuem um envolvimento contínuo e adequado com a atividade física e que, através de sua prática psicofísica, promove o bem-estar físico, psicológico e social do idoso.

O Yoga visa atingir a autoconsciência ou autorrealização através de práticas espirituais, morais e físicas. No ocidente, o sistema mais baseado é o Hatha Yoga, que é composto de diferentes elementos como posturas (asanas), exercícios de respiração (pranayama), relaxamento (yoganidra) e meditação (dharana).

Devido aos efeitos adversos da medicação, da falta de resposta e eficácia a longo prazo, da sonolência e dependência que causa os remédios, o Yoga poderia ser mais explorado e usado como uma ´´terapia complementar´´. As terapias baseadas no Yoga não tem efeitos adversos (ou mínimos), além de ser uma intervenção não farmacológica.

O objetivo desse trabalho é mostrar através de pesquisas, estudos e dados como o Yoga pode contribuir para a implementação de um confiável tratamento não
farmacológico e alternativo para a depressão em idosos. É importante que as pessoas
possam contar com opções de tratamento confiáveis e fidedignas.


2. DESENVOLVIMENTO
William James, considerado por muitos o ´´pai da psicologia americana´´ afirmou em seu livro Princípios de Psicologia (1890) a seguinte frase ´´Nós não sorrimos porque somos felizes, nós somos felizes porque sorrimos´´. Ele quis dizer com essa frase que nossos corpos falam para nós, ou seja, que o corpo molda a mente. O corpo informa como e o que sentir e até pensar. Muda o que acontece dentro do sistema endócrino, do sistema nervoso autônomo, do cérebro e da mente sem que o indivíduo perceba isso. O modo como a pessoa conduz seu corpo (posturas, expressões faciais, respiração) afeta seu modo de pensar, sentir e se comportar.

O Yoga, que é uma prática que trabalha com o corpo e mente, traz muitos benefícios psicológicos e fisiológicos que certamente evitam ou amenizam muitas doenças como a depressão. Pesquisas (Gharote, 1977) mostram que através das posturas (asanas), exercícios de respiração  pranayamas),relaxamento (yoganidra) e meditação (dharana) pode aumentar o poder pessoal, a sensação de presença, auto-confiança, a concentração, além de diminuir o estresse, ansiedade e depressão.

Em um estudo feito pelo pesquisador Van der Kolk, especialista na área de estresse pós traumático, participantes mantiveram uma série de posturas (asanas) leves como braços estendidos para o alto e em seguida inclinados para trás e para os lados por cerca de 30 segundos. Depois repetiram o ciclo. Esses participantes mostraram reduções significativas no estresse autodeclarado, bem como frequência respiratória mais lenta e maior variabilidade da frequência cardíaca (VFC). Uma VFC maior associada a uma frequência respiratória lenta em geral é uma boa indicação de bem-estar orgânico.

Amy Cuddy publica em seu livro O Poder da Presença, um pequeno estudo publicado em 2004 na revista Human Physiology que mediram os efeitos físicos de manter uma postura do Hatha Yoga bem expansiva, conhecida como posição da cobra (ou da serpente), por aproximadamente 3 minutos. Os pesquisadores estavam interessados no efeito que a postura da cobra causa nos níveis dos hormônios em
circulação, principalmente a testosterona e o cortisol. O sangue dos participantes foi coletado um pouco antes e um pouco depois deles adotarem a postura.

Todos os participantes no estudo apresentaram um aumento dos níveis de testosterona e uma redução dos níveis de cortisol no sangue. Em média, a testosterona aumentou 16% e o cortisol caiu 11%, mudanças estatisticamente substanciais para ambos os hormônios.

A testosterona aumenta nossa assertividade e a possibilidade de ação, enquanto o cortisol baixo nos defende dos tipos de estressores mais passíveis de nos tirar do rumo durante nossos maiores desafios. Essas descobertas mostraram que manter uma única postura expansiva pode fazer uma diferença significativa e mensurável nos hormônios relacionados à ansiedade e à confiança, podendo evitar ou reduzir a depressão.

A. Kjellgren et al. (2007) investigaram por seis semanas os efeitos do Yoga na sensação de bem-estar em voluntários idosos. Os resultados sugerem que participantes do grupo de Yoga reduziram o grau de ansiedade, depressão e estresse e também aumentaram o sentimento de otimismo. Os pesquisadores concluíram que indivíduos podem melhorar o bem-estar assim como reduzir a ansiedade e as taxas de depressão através da aprendizagem e aplicação de um programa baseado no Yoga.

Para a depressão leve e moderada, o efeito do Yoga pode ser comparável com a medicação antidepressiva e a psicoterapia. Para a depressão grave, o Yoga parece ser uma valiosa terapia complementar aos tratamentos tradicionais (Knapen, Vancampfort, Morie, & Marchal, 2015).

O estudo de Mendes, Carvalho, Silve e Almeida (2017), revisão integrativa da literatura sobre o exercício físico e a depressão em idosos, no período entre 2010 e 2016 encontrou que, em geral, grupos de idosos ativos, quando comparados com grupos de sedentários, apresentam menores níveis de depressão.

Outro motivo no qual o Yoga pode mudar o modo como o indivíduo se sente é que sua prática induz a respirar naturalmente de forma lenta e ritmada. Os benefícios do controle da respiração podem ser alcançados praticamente em qualquer lugar, a qualquer momento. Com umas poucas respirações profundas e lentas, você muda seu corpo e sua mente.

O neurocientista Pierre Philippot e seus colegas realizaram um experimento no qual pediram a um grupo de voluntários que alterassem sua respiração para que sentissem emoções como alegria, raiva e medo (uma emoção de cada vez) e depois relatassem de que maneira alcançaram as emoções. Assim, apenas respirando mais depressa ou devagar, mais profundamente ou nasalmente, com tremores e suspiros, as pessoas conseguiam alterar suas emoções e seu estado mental.

Além disso, o Yoga utiliza a meditação. A meditação tem sido progressivamente utilizada e reconhecida como intervenção profilática e terapêutica segura, eficaz e efetiva na área da saúde. Desde 2004, o sistema nacional de saúde inglês National Health Service (NHS) tem apoiado o uso da meditação mindfulness associado à psicoterapia para o tratamento de recorrência em adultos e idosos com diagnóstico de depressão.

Em uma revisão de estudos da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, foram analisadas 47 pesquisas relacionadas à meditação e saúde mental. Os pesquisadores concluíram que a meditação pode ajudar em casos de ansiedade, depressão e até dor. A pessoa com a prática da meditação, obtém maior
reconhecimento de seus estados internos, sensações corporais, emoções e impulsos. Com isso, aprende a lidar melhor com o estresse, além de amenizar a ansiedade, depressão e dor crônica.


3. CONCLUSÃO
Pela observação dos aspectos analisados o Yoga pode ser considerado uma atividade alternativa promotora da capacidade física e da autonomia funcional, que vão interferir diretamente, segundo Zimerman (2000), nos aspectos psicológicos e sociais dos idosos.

O Yoga pode agir como um fator de proteção e retardamento da atrofia no sistema nervoso central, aumentando a sobrevida do mesmo, a vascularização, a formação e estimulação neuronal, assegurando um aumento dos neurotransmissores (serotonina, dopamina e noraepinefrina) na corrente sanguínea, que são bastante reduzidos durante a depressão.

Com a prática, haverá na saúde física, um aumento da capacidade de bombardeamento do coração, da força de músculos respiratórios, da massa muscular, da densidade óssea e da resistência dos tendões e ligamentos. Esses fatores contribuem com uma redução do risco de quedas e fraturas e , ainda, aumentam a independência do idoso para a realização de simples atividades da rotina. Com isso, há
o aumento da autoconfiança e da autoestima do idoso e, consequentemente, para a prevenção ou redução da depressão.

Ainda assim, é importante tirar o idoso dessa posição de inválido na sociedade contemporânea. Esse estudo também serve para mostrar que há formas simples e econômicas de melhorar a saúde desta parcela da população. O Yoga, por exemplo, é uma intervenção de confiança, bem-sucedida e com boa relação custo-benefício.
Em virtude dos fatos mencionados, pode-se dizer que as pesquisas, estudos e dados corroboraram a expectativa inicial e apontaram para a importância do Yoga como fator que pode interferir ativa e positivamente na promoção da saúde mental das pessoas e, nesse caso, no tratamento e prevenção da depressão da população de pessoas idosas.


4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CUDDY, Amy. O poder da presença. Rio de Janeiro: Sextante, 2016. AQUINI, Sílvia do Nascimento. O yoga e o idoso: rumo ao alto da montanha: os efeitos da prática de yoga de acordo com a percepção de idosos. Santa Catarina,2012.

HARIPRASAD, V.R. et al. Randomized clinical of yoga-based intervention in residents from elderly homes: effects on cognitive function. Indian Journal of Psychiatry. Jul. 55 (Suppl 3), 2013

SANTOS ALVES, Audrey dos et al. Os efeitos da prática do Yoga sobre a capacidade física e autonomia funcional em idosas. Fitness e Performance Journal, vol. 5. Núm 4. Rio de Janeiro, jul/ago, 2006.

EVANGELHO HERNANDEZ, José Augusto; DA CUNHA VOSER, Rogério. Exercício físico regular e depressão em idosos. Estudos e pesquisas em Psicologia, Vol. 19, Rio de Janeiro, set/dez 2019.

KOZASA, Elisa Harumi. A prática da meditação aplicada ao contexto da saúde. Saúde Coletiva, vol. 3, núm 10, São Paulo, 2006.

FERREIRA VORKAPIC, Camila; RANGÉ, Bernard. Os benefícios do yoga nos transtornos de ansiedade. Revista Bras.ter.cogn, vol. 7, núm 1. Rio de Janeiro, jun, 2011.

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