A xícara de chá está cheia

Certa vez um mestre zen japonês concedeu uma audiência a um professor de filosofia, que queria saber sobre o Caminho...
Ao servir o chá, o mestre (Nan in) encheu a xícara de seu visitante, mas continuou despejando o chá sem parar.
O professor ficou observando o transbordamento até não poder mais se conter. Pare! A xícara está mais do que cheia, nada mais cabe aí.
E o mestre disse: Como esta xícara, você também está cheio de opiniões e ideias (cheio de pensamentos). Como posso lhe mostrar o zen (caminho), sem que você antes esvazie a sua xícara (mente)?

Procure observar a respiração e, observando a respiração, permita-se esvaziar a sua xícara, a sua mente... Perceba... Não apenas aquele homem era um professor de filosofia. Nós também somos. Cada um de nós carrega a nossa filosofia; cada um de nós somos um professor à nossa maneira, pois estamos convictos de nossas ideias, acreditamos nelas. Temos opiniões, conceitos.
E por causa de nossas opiniões e conceitos, nossos olhos estão embaçados - não podemos ver a realidade; Ideias criam estupidez, pois quanto mais ideias existem, mais a mente está carregada. Quanto mais ideias existem, mais elas se tornam como poeiras que se acumulam sobre um espelho. E se acumulamos poeira, nossa mente torna-se estúpida e embaçada.

E o mestre diz: Você sabe demais para realmente saber alguma coisa
A maioria das pessoas está tão sobrecarregada que não pode voar pelo céu – não pode ter asas. As pessoas estão demais em suas mentes e também não podem ter raízes na terra.
As pessoas que estão cheias de perguntas estão sempre procurando respostas. É tolice preocupar-se com perguntas e respostas.
Se você puder preservar sua infância, se puder recuperá-la continuamente, você permanecerá inocente e inteligente.
Em uma mente inocente, o espelho está claro e limpo. O pó não se acumulou. E todos os dias uma limpeza está sendo feita. É isso que chamo de meditação. E meditação significa a maneira de você se esvaziar.

Mas a mente está sempre apressada, sempre procurando realizações instantâneas. Para a mente é muito difícil esperar. Se eu convido você a sentar, silenciar e esperar, você começa a ferver que nem a água da chaleira, fazendo ainda mais barulho dentro, tagarelando, falando sem parar. E você está tão cheio que nada pode penetrá-lo.

Em minhas aulas, o que faço é convidar você para vir aqui, quebrar completamente essa xícara, de modo que, mesmo que você queira não a possa preencher.
Mas você está tão viciado, ficou tão habituado, que não deixa sua mente ficar vazia nem por um momento. Assim que você vê vazio em qualquer lugar, começa a preenchê-lo. E você tem tanto pavor do vazio, tanto medo do silêncio que irá preenchê-lo com qualquer porcaria. E muito é possível se você permite, mas permitir é difícil, pois para permitir você terá de se render - vazio significa rendição.

Muitos de vocês estão aqui, mas eu conheço a pergunta, pois no fundo, a pergunta é uma só – a ansiedade que se sente, a angústia que incomoda, a falta de sentido que deixa a gente perdido, a futilidade de toda esta vida, sem saber quem somos nós. (então) Deixe-me quebrar esta xícara... Se você estiver pronto para se render e (permitir que velhos hábitos sejam) destruídos, algo de novo surgirá. Toda destruição pode se tornar um nascimento criativo.
Haverá sofrimento (claro), pois nenhum nascimento é possível sem sofrimento. Muita angústia surgirá, pois você a tem acumulado, e ela tem de ser descarregada. (então) Uma purificação e catarses profundas serão necessárias.
Por isso não tente escapar do sofrimento – esse é o ponto onde você pode pôr tudo a perder. Passe pelo sofrimento. O sofrimento queimará você e irá destruir todo o lixo que você acumulou. A partir da escuridão do sofrimento, uma nova manhã começa. E não se preocupe, pois o que pode ser destruído é algo que não é você.

Nos próximos minutos, observe a sua respiração e vai esvaziando a sua xícara, deixa a mente se esvaziar de todos os seus conteúdos...


MEDITAÇÃO (ESCUTA, COMPREENSÃO e FAMILIARIDADE)

ESCUTA / ENSINAMENTO
Para vislumbrar o caminho precisamos esvaziar a mente


COMPREENSÃO / REFLEXÃO
Por compaixão, um Buda (um mestre), sempre quer se tornar um hóspede dentro da gente. Ele bate, mas não há porta. E mesmo que ele arrombe uma parede, o que é muito difícil, não há lugar. Nós estamos tão cheios de nós mesmo, estamos tão cheios de lixo e de todos os tipos de parafernália – acumulados durante muitas vidas – que não há lugar, não há espaço. Nós vivemos fora de nosso próprio ser, ficamos apenas na superfície - não podemos entrar em nós mesmos. Tudo está bloqueado. Estamos transbordando com opiniões, filosofias, doutrinas e escrituras. Nós já sabemos demais. O que todos nós precisamos é nos esvaziar um pouco...


FAMILIARIDADE / MEDITAÇÃO
Então, nesse momento, esvazie a sua mente... O ego está aí, transbordando. E quando o ego está transbordando, nada pode ser feito. A existência inteira está ao seu redor, mas nada pode ser feito. Você não consegue se conectar com sua verdadeira natureza. Você criou uma fortaleza.

Então, nos próximos minutos morra, mas morra para todas as suas máscaras, morra para toda a sua estupidez, morra para toda a sua mediocridade.

E, em profundo silêncio, manifeste a sua natureza luminosa – manifeste sua bondade essencial.

Assim que essa sensação surgir, procure retê-la em sua mente, dentro de seu coração, sem se distrair, por três (3) a vinte e quatro (24) minutos.

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