Ninguém deseja sofrer

Contemple esse ensinamento:
Ninguém deseja sofrer. Dia e noite, inclusive em nossos sonhos, tentamos instintivamente evitar e, até mesmo, fugir do mais leve e insignificante sofrimento. Isso indica que embora não estejamos plenamente conscientes disso, o que realmente buscamos, do mais fundo do nosso coração, é a libertação permanente do sofrimento.

Vejamos:
Há momentos em que estamos livres de sofrimento físico e dor mental, mas esses momentos não duram pra sempre. Não demora muito até que nosso corpo se torne novamente desconfortável (ou doente), e que nossa mente esteja perturbada por preocupações e infelicidade. Qualquer problema que possamos superar é apenas uma questão de tempo para que outro surja e tome o seu lugar. Não é assim?
Isso mostra que, apesar do nosso desejo por libertação permanente do sofrimento, nunca conseguimos realizá-lo. Enquanto as aflições mentais permanecerem em nossa mente, nunca seremos totalmente livres do sofrimento. Podemos desfrutar momentos de pausa ou alívio, mas não demora muito para que nossos problemas retornem.
A única maneira de colocar um fim, de uma vez por todas, ao nosso sofrimento é seguir um caminho espiritual. Já que todos desejam, do fundo de seu coração, a total libertação do sofrimento, podemos ver que, em verdade, todos precisam seguir um caminho espiritual.
No entanto, porque nosso desejo em satisfazer os prazeres mundanos é muito intenso, temos pouco ou nenhum interesse pela prática espiritual. Enquanto tivermos essa preguiça, a porta para a libertação estará fechada para nós e, consequentemente, continuaremos a vivenciar problemas nesta vida e sofrimento sem fim vida após vida.

O Mestre (Geshe-la) diz:
Nosso tempo de vida não pode ser aumentado e, em verdade, está diminuindo continuamente...
Enquanto estamos dormindo e enquanto estamos acordados, nossa vida escapa disfarçadamente de nós. Nosso tempo de vida nunca interrompe sua corrida.
Suponha que nosso médico nos revele que estamos sofrendo de uma doença incurável e que temos uma semana de vida. Se um amigo nosso nos oferecesse um presente fantástico – como um diamante, um carro novo ou férias gratuitas – não ficaríamos muito excitados com isso. Porém, em verdade, essa é a nossa verdadeira situação, pois todos nós estamos sofrendo de uma doença mortal. Quanta tolice é ficar excessivamente interessado pelos prazeres passageiros desta breve vida!
Se acharmos difícil meditarmos sobre a morte, podemos meramente ouvir com atenção o tique taque de um relógio e tomar consciência de que cada tique taque marca o fim de um momento de nossa vida e nos arrasta para mais perto da morte.

Nosso mundo é tão impermanente quanto nuvens de outono.
Perceba... A morte virá, independente de termos ou não conseguido tempo para a prática espiritual. Embora a vida seja breve, isso não seria tão ruim se tivéssemos tempo suficiente para a prática espiritual, mas a maior parte do nosso tempo é dedicada a dormir, trabalhar, comer, fazer compras, conversar e assim por diante, restando pouquíssimo tempo para uma prática espiritual pura.
Insistimos em pensar que temos tempo suficiente para a prática espiritual, mas, se examinarmos com bastante atenção nosso estilo de vida, veremos que os dias passam rapidamente, sem nos darmos conta, e sem que tenhamos começado seriamente uma prática.
Os caminhos das vidas futuras são muito longos e desconhecidos. Não temos liberdade ou independência para decidirmos onde iremos renascer, mas temos de ir para onde nosso carma (nossas ações) nos levar. Por essa razão, precisamos encontrar algo que nos mostre um caminho seguro para as vidas futuras, algo que nos conduza pelos caminhos corretos e para longe dos caminhos errôneos. As posses e os prazeres desta vida não podem nos proteger.
Uma vez que somente os ensinamentos espirituais revelam um caminho perfeito que irá nos proteger no futuro, precisamos gerar esforço com nosso corpo, fala e mente para colocar em prática os ensinamentos espirituais.


MEDITAÇÃO (ESCUTA, COMPREENSÃO E FAMILIARIDADE)

ESCUTA / ENSINAMENTO (1)
Cada ser vivo neste mundo tem de sofrer o envelhecimento, a doença e a morte


COMPREENSÃO / REFLEXÃO (2)
Se refletirmos sobre nossa própria vida, iremos ver que temos gasto muitos anos sem nos interessarmos pela prática espiritual e, mesmo agora, quando estamos experienciando o Yoga, e surge um desejo sincero de colocar em prática os ensinamentos, ainda não praticamos puramente devido à preguiça.

Um erudito chamado Gugtang disse:
Gastei vinte anos não desejando praticar ensinamentos espirituais. Gastei os vinte anos seguintes pensando que poderia praticá-los mais tarde. Gastei mais vinte anos absorvido em outras atividades e lamentando o fato de que não havia me empenhado na prática espiritual. Esta é a história da minha vida humana vazia.

Essa poderia ser nossa própria história de vida, mas, se meditarmos sobre a morte, desenvolveremos um desejo tão sincero de praticar puramente que iremos começar, naturalmente, a modificar nossa rotina diária de modo que inclua, ao menos, um pequeno tempo para a prática espiritual. Por fim, iremos encontrar mais tempo para a prática espiritual do que para outras atividades.


FAMILIARIZAÇÃO / MEDITAÇÃO (3)
Compreendendo isso, devemos pensar profundamente: “Irei morrer, inevitavelmente”. Considerando que, na hora da nossa morte, somente nossa prática espiritual será de alguma assistência verdadeira para nós, tomamos a firme resolução: “eu preciso colocar em prática os ensinamentos espirituais”

Pratique continuamente essa meditação (com confiança e concentração) e, quando esse novo pensamento surgir de modo claro e forte em sua mente, retenha essa sensação dentro do seu coração, por três minutos, sem se distrair, para que você se torne mais familiarizado com ele, até nunca mais perdê-lo.

Ao terminar...
Tente levar essa “sensação” com você durante o intervalo entre as meditações.


PLUS
A AUTÊNTICA PRÁTICA ESPIRITUAL

Hoje falamos sobre a importância de nos empenharmos na prática espiritual.
Mas o que significa “empenhar-se na prática espiritual”?

Em essência, significa transformar a mente – superando nossas aflições mentais e ações negativas, e cultivando pensamentos e ações construtivas.
Isso é algo que podemos fazer o tempo todo, não apenas enquanto estamos sentados em meditação.
Estaremos envolvidos com a prática espiritual sempre que colocarmos esses ensinamentos em prática. E a prática do treino da mente é especialmente adequada para a época atual, em que as pessoas vivem tantas dificuldades.

Para quem deseja colocar em prática os ensinamentos
A disciplina moral é o fundamento de uma autêntica vida espiritual.
Isso significa evitar ações negativas como matar e roubar – que não precisam de tantas explicações; evitar má conduta sexual – fazer o outro sofrer; mentir, discurso divisor – quando falamos mal de outras pessoas; discurso ofensivo, tagarelice; cobiça; maldade e sustentar visões errôneas, reconhecendo todas essas ações como prejudiciais tanto para nós como para os outros.
É também muito importante praticar generosidade. Podemos dar não apenas ajuda material para aqueles que necessitam, mas também podemos dar nosso tempo, boa vontade e amor para todos que encontrarmos; podemos dar proteção para os que estão com medo ou em perigo, especialmente os animais; e podemos dar ensinamentos espirituais ou bons conselhos sempre que for apropriado.
Outra prática essencial é a paciência. Paciência é uma mente que, com uma intenção virtuosa, aceita danos ou adversidades; Praticamos paciência toda vez que evitamos ficar com raiva, mesmo quando somos prejudicados ou insultados; ou quando aceitamos calmamente situações difíceis, como doença, pobreza, solidão, a perda do nosso emprego ou do nosso companheiro, ou quando nossos desejos não são satisfeitos.
Devemos, também, colocar grande esforço no estudo – temos tempo sim...
Devemos treinar em concentração meditativa, que é a fonte de paz interior. Quanto mais profunda for nossa concentração, mais profunda e estável será nossa paz mental, e mais clara e poderosa nossa mente irá se tornar.
O mais importante é que devemos treinar sabedoria e, então, poderemos remover da nossa mente a ignorância do auto apreço e, desse modo, satisfazer nosso mais profundo desejo de libertação permanente do sofrimento.


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