Todas as guerras, fomes, doenças e calamidades naturais, surgem do ódio e dos outros venenos internos. No momento em que os pensamentos nocivos predominam e as pessoas só pensam em causar mal umas às outras, o bem estar diminui a cada dia. Se a mente das pessoas é atravessada pelo desejo de ajudar os outros, o bem estar aumenta continuamente.
Quando o mundo está cheio de maldade, transforme todas as adversidades em caminho para a iluminação (despertar da consciência). Precisamos usar as circunstâncias indesejáveis e desfavoráveis da vida como o verdadeiro material para o despertar.
Esse é um precioso legado desses ensinamentos. Tudo o que acontece é visto não como um obstáculo, mas como meio para o despertar. Esse ensinamento se adapta muito bem à nossa vida ocupada e em tempos difíceis. Na verdade, se não houvesse dificuldades, não haveria necessidade do treinamento mental (Lojong) ou mesmo da meditação dar e receber (Tonglen), por exemplo.
No caminho desse guerreiro que desperta e cultiva bravura e compaixão (Bodhisattva), todas as experiências - serenas e caóticas - estão incluídas. Quando tudo vai bem, estamos ótimos. Nós nos deleitamos na beleza da Lua cheia, na beleza de um pôr do Sol, no sorriso de uma criança: há um sentimento de apreciação. Mas, quando soa o alarme de incêndio e a confusão se instala, ficamos irritados e aborrecidos imediatamente.
A primeira Nobre Verdade, que é o primeiríssimo ensinamento de Buddha, diz que o sofrimento existe como parte da experiência humana. As pessoas ferem umas às outras – nós magoamos e somos magoados. Reconhecer isso é possuir uma visão clara.
Mas como podemos ajudar os outros a encontrar sua própria sabedoria, bondade e senso de humor? Esse é um desafio muito maior do que odiar, culpar e reagir. Nós podemos fazer amizade com nossos próprios sentimentos de ódio, confusão e aí por diante. Desse modo, seremos capazes de aceita-los nos outros. Não lidamos apenas com “eles”. Somos “nós” e “eles”.
Lembre-se que essa é uma prática em que a compaixão começa a surgir em você, porque você, você mesmo, já esteve em situação semelhante – você já sentiu raiva, já sentiu intolerância, impaciência, ciúme, inveja... Você sabe que sensações são essas e como às vezes, agimos de forma estranha. Dizemos palavras cruéis porque nos sentimos sozinhos. Insultamos os outros porque queremos ser amados por eles. Só é possível pensar em se colocar no lugar do outro quando já estivemos ali. Isso não acontece porque somos melhores, mas porque seres humanos compartilham as mesmas experiências.
“Todo o Dharma converge para um único ponto”. Todos os ensinamentos convergem para um único ponto: renunciar ao apego a si mesmo. Não estou dizendo que o ego é uma coisa que devemos nos livrar, mas algo com que fazemos amizade enquanto aprendemos a não mais extravasar ou reprimir nossos sentimentos.
A dor é o resultado de querer que tudo seja feito ao nosso modo. O ego é como um quarto todo nosso. Um quarto com a temperatura, os cheiros e a música de que gostamos. Queremos que ele seja do nosso jeito. Gostaríamos apenas de um pouco mais de paz, um pouco mais de alegria e de um “tempo” para nós mesmos.
Entretanto, enquanto pensamos assim e tentamos impor o nosso estilo, mais tememos que os outros ou o que está do lado de fora comece a ganhar terreno. Em vez de nos tornarmos mais relaxados, fechamos as cortinas e trancamos a porta. Quando conseguimos sair, ficamos mais desconfiados, mais assustados e irritáveis do que nunca.
Para desenvolver compaixão por si mesmo e pelos outros é necessário destrancar a porta. Ainda não vamos abrir a porta – apenas destrancá-la -, porque, antes disso, é preciso trabalhar com o medo de que entre alguém de quem não gostamos. Então, quando relaxamos e fazemos amizade com nossos sentimentos, começamos a abri-la. Com certeza vão entrar músicas e cheiros de que não gostamos. Com certeza vão chegar pessoas dizendo que deveríamos ser de outra religião, que deveríamos votar em alguém que desaprovamos, que deveríamos gastar uma quantia que não queremos gastar.
Nesse ponto, começamos a nos relacionar com esses sentimentos. Desenvolvemos alguma compaixão nos conectando com nosso lado mais vulnerável. Quando não nos protegemos tanto, passamos a ter contato com o que vai acontecendo. Apenas abrimos a porta cada vez mais e, em um dado momento, sentimos que somos capazes de convidar todos os seres para serem nossos hóspedes.
Quando começamos a praticar desse modo, nós nos tornamos tão honestos com o que sentimos que começamos a desenvolver compreensão também em relação aos outros.
Esse é o ponto em que o coração aparece nessa prática e daqui vem a sensação de gratidão e apreciação por nossa vida. Nós nos tornamos parte de uma linhagem de seres que, ao longo da história, cultivaram a coragem, mantendo-se abertos às grandes dificuldades e às situações dolorosas, e transformando-as em caminho de iluminação.
Ainda vamos bater muito a cabeça e vamos continuar a sentir que somos inadequados. Como essas pessoas, podemos usar nossas experiências para despertar.
MEDITAÇÃO (ESCUTA, COMPREENSÃO e FAMILIARIDADE)
ESCUTA / ENSINAMENTO
Quanto mais nos conhecemos, mais compreendemos as outras pessoas.
COMPREENSÃO / REFLEXÃO
O mestre vai perguntar
Quando o mundo está cheio de maldade, como transformar as situações indesejáveis em caminho para a iluminação?
Ter uma certa comunicação com o inimigo – de coração para coração – é a única forma de mudar as coisas. Enquanto odiarmos, estaremos apenas causando mais sofrimento a ele, a nós mesmos e ao mundo.
Somente sem ódio poderemos realizar uma reforma verdadeira.
FAMILIARIDADE / MEDITAÇÃO
Nos próximos minutos, praticamos Shamatha.
Repousamos nossa atenção na respiração silenciosa.
Assim que essa sensação surgir, procure retê-la em sua mente, dentro de seu coração, sem se distrair, por três (3) a vinte e quatro (24) minutos.
Ao terminar...
Tentamos levar esse “sentimento; sensação” conosco durante o intervalo entre as meditações.
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