Aprender a aceitar o sofrimento

O mestre Geshe lá diz:
No samsara (ciclo de nascimentos e mortes), poucas são as situações que trazem prazer e muitas são as que trazem tormento. Essa é a verdadeira natureza do samsara (na perspectiva budista) – seus sofrimentos são infinitos e suas alegrias, limitadas.

Além disso, todo o nosso sofrimento é o resultado de ações que nós mesmos cometemos no passado – levando outros seres vivos ao sofrimento. Então, será preciso aprender a aceitar o que é inevitável, ao invés de lutar contra isso.

Existem muitas circunstâncias difíceis e desagradáveis que não podemos nos esquivar, mas certamente podemos evitar a infelicidade e a raiva que elas provocam em nós, pois reagir ao sofrimento com raiva e não aceitação paciente só piora as coisas.

Quando aprendemos a aceitar circunstâncias difíceis pacientemente, o verdadeiro problema desaparece.
Nosso verdadeiro problema não são as doenças físicas, os relacionamentos difíceis ou as dificuldades financeiras que talvez estejamos enfrentando, mas sim o fato de estarmos presos nesse ciclo de nascimento e mortes (samsara), devido às nossas ações de corpo, fala e mente passadas.
Reconhecer isso é a base para desenvolvermos renúncia – o desejo espontâneo de nos libertar de qualquer insatisfação. Mas esse reconhecimento só pode surgir ou se revelar, na mente clara e aberta da aceitação paciente.

Enquanto estivermos em conflito com as dificuldades da vida, pensando que as coisas deveriam ser diferentes do que são e culpando as circunstâncias e as outras pessoas por nossa infelicidade, nunca teremos a clareza... nunca teremos o espaço mental necessário para ver o que realmente nos mantém aprisionados (ao sofrimento).
Normalmente, a urgência de fugir dos sentimentos desagradáveis é tão grande e a reação é tão rápida, que não nos dá o tempo necessário para enxergar com exatidão o que está acontecendo em nossa mente.

Podemos, perfeitamente, aceitar os sentimentos dolorosos pacientemente, experiencia-lo e investigar qual é a sua natureza e de onde vêm. Então, veremos que as sensações dolorosas não vêm de fora, mas nascem dentro da nossa própria mente.
Circunstâncias exteriores ou pessoas não têm o poder de nos causar mal-estar; o máximo que fazem é desencadear os potenciais de sensações dolorosas que já estão dentro de nós. Esses potenciais, ou marcas cármicas, são resíduos das ações negativas que nós mesmos cometemos no passado, porque estávamos sob o controle da raiva, do apego, do egoísmo (delusões) – nossas aflições mentais.

As sensações de dor que nos fazem sofrer são inseparáveis do apego ao eu e a tudo que é meu. (nós) Sentimos intensamente “eu estou mal” ou “meus sentimentos foram feridos”.
Quando nos identificamos com nossas sensações, nós as tornamos maiores e mais sólidas do que são, e é muito mais difícil largar esse sentimento desagradável. Por outro lado, quando aprendemos a encarar nossos sentimentos com um certo distanciamento, como se fossem ondas no oceano da nossa mente, eles se tornam menos assustadores e nós conseguimos lidar com eles de maneira mais fácil e construtiva.

Geshe lá finaliza dizendo:
“Se aprendermos a ser pacientes com pequenos desgostos, como crítica, impopularidade e calúnia, aos poucos conseguiremos ser capazes de aceitar, com uma mente calma e feliz, todos os sofrimentos da vida humana, como calor, frio, fome, sede, doença, prisão, maus tratos físicos e até a morte. 
Reconhecer nossa vulnerabilidade afasta a arrogância e o orgulho (deludido), e compreender que nossa dor é simplesmente um sintoma de estarmos no samsara nos capacita a gerar renúncia.

Depois de aceitar nosso sofrimento com paciência, se pensarmos na desgraça dos outros prisioneiros do samsara, a compaixão surgirá naturalmente em nós.
Dessa maneira, viveremos sem medo, sabendo que não há nada que não possa ser aceito e transformado em caminho espiritual.


MEDITAÇÃO (ESCUTA, COMPREENSÃO e FAMILIARIDADE)

ESCUTA / ENSINAMENTO
O que perturba a nossa paz e prática espiritual é a maneira como reagimos às adversidades, mais do que as adversidades em si.

COMPREENSÃO / REFLEXÃO
Tendo contemplado profundamente esse ponto do ensinamento... tentamos compreendê-lo um pouco mais.

Quando aprendemos a aceitar as circunstâncias difíceis pacientemente, o verdadeiro problema desaparece.
Por exemplo, suponhamos que o nosso corpo se encontre atormentado por uma doença dolorosa. Se tivermos uma maneira de aceitar a dor – por exemplo, encarando-a como um meio de esgotar nosso carma negativo – nossas ações negativas do passado -, nossa mente permanecerá em paz, apesar do corpo estar sentindo dor.
Além disso, como a dor física está estreitamente ligada ao estresse mental, conforme a mente relaxar descobriremos que a dor efetivamente cede e o corpo é capaz de curar a si próprio.
No entanto, se nos recusarmos a lidar realisticamente com o desconforto, amaldiçoando nossa doença e caindo em depressão, não só teremos que enfrentar mais esse tormento mental adicional, como também é muito provável que a dor física aumente.

FAMILIARIDADE / MEDITAÇÃO
Pratique continuamente essa meditação até que você “possa sentir” que a raiva destrói a paz e a felicidade que temos agora, rouba nossa felicidade futura e, já que nos leva a cometer ações negativas, semeia os sofrimentos que colheremos vida após vida.

Assim que essa sensação surgir, procure retê-la em sua mente, dentro de seu coração, sem se distrair, por três (3) a vinte e quatro (24) minutos, e desenvolva a firme determinação de aceitar circunstâncias difíceis, pacientemente.

Ao terminar...
Tentamos levar esse “sentimento; sensação” conosco durante o intervalo entre as meditações.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário