Trocar eu por outros

Nos últimos encontros, trouxemos a prática de apreciar com igualdade a nós mesmos e todos os outros seres vivos.
O ensinamento de hoje é muito valioso no sentido de eliminar o nosso sofrimento, e possui a visão superior que nos mostra como trocar eu por outros.

Então, vejamos:
Normalmente, dividimos o mundo exterior naquilo que consideramos como sendo bom ou valioso, ruim ou sem valor, ou nem um nem outro – de modo indiferente.

Mas na maior parte do tempo, essas discriminações fazem pouco sentido. Por exemplo, nossa maneira habitual de classificar as pessoas em amigos, inimigos e estranhos, depende de como elas nos fazem sentir, mas isso é um grande obstáculo se quisermos desenvolver amor imparcial por todos os seres vivos. Em vez de nos prendermos tão estreitamente às nossas discriminações sobre o mundo exterior, seria muito mais benéfico se aprendêssemos a discriminar entre estados mentais valiosos e estados mentais inúteis.

O mestre diz que delusões como apego, orgulho e autoapreço são mais difíceis de serem identificadas do que a raiva, por exemplo.

Entre os inúmeros pensamentos conceituais que surgem do oceano de nossa mente, o mais prejudicial é o autoapreço e o mais benéfico é a mente de apreciar os outros.

Mas o que é exatamente o autoapreço?
O mestre (Gyatso) explica:
O autoapreço é a nossa mente que pensa “eu sou importante”, enquanto negligencia os outros. O autoapreço é definido como uma mente que considera a própria pessoa como sendo supremamente importante e preciosa. A aflição mental do autoapreço está funcionando em nossa mente quase que o tempo todo e é o verdadeiro âmago de todo o nosso sofrimento.

É o nosso autopreço que nos faz sentir que nossa felicidade e liberdade são mais importantes que a de qualquer outra pessoa, que os nossos desejos e sentimentos contam mais e que nossa vida e experiências são mais interessantes. Devido ao nosso autoapreço, ficamos perturbados quando somos criticados ou insultados, mas não sentimos o mesmo quando um estranho é criticado e, talvez, possamos até nos sentir felizes quando alguém que não gostamos é insultado. Quando sentimos dor, achamos que a coisa mais importante do mundo é interrompê-la o mais rapidamente possível, mas somos muito mais pacientes quando alguém está com dor.
Estamos tão familiarizados em nos achar mais importantes que os outros seres que achamos difícil imaginar e aceitar ser os outros mais importantes e preciosos que nós

É impossível encontrar um único problema ou experiência dolorosa que não surja do autoapreço.
Shantideva disse:

Toda felicidade que existe nesse mundo
Surge de desejar que os outros sejam felizes,
E todo sofrimento que existe no mundo
Surge de desejar que nós mesmos sejamos felizes.

Como podemos entender isso?
Todas as nossas experiências são efeitos de ações que cometemos no passado: experiências agradáveis são os efeitos de ações positivas, e experiências desagradáveis são os efeitos de ações negativas. Sofrimentos não nos são dados como punição. Eles todos vêm da nossa mente de autoapreço, que deseja que nós próprios sejamos felizes enquanto negligenciamos a felicidade dos outros.
Sofremos porque, em nossas vidas anteriores, motivados pelas intenções egoístas (nosso autoapreço) cometemos ações que fizeram os outros experienciarem sofrimento. Como resultado dessas ações, experienciamos agora nossos sofrimentos e problemas atuais. Se nunca tivéssemos nos envolvido em ações negativas, seria impossível experienciarmos quaisquer efeitos desagradáveis.
Todas as ações negativas são motivadas por aflições mentais que, por sua vez, surgem da ignorância de nos acharmos mais importantes e preciosos (autoapreço) do que os outros.
Primeiro, geramos o pensamento “eu sou importante” e, por causa desse pensamento, sentimos que a satisfação dos nossos desejos é de suprema importância. Então, desejamos tudo aquilo que nos aparece atraente e geramos apego; sentimos aversão por tudo aquilo que nos aparece desagradável e geramos raiva, e sentimos indiferença por tudo aquilo que aparece neutro e geramos ignorância. A partir dessas três delusões (apego, aversão e ignorância), todas as demais delusões surgem.

Se observarmos a nossa mente quando começamos a sentir medo, vergonha ou quando estamos indignados, iremos notar uma sensação muito nítida que existe uma entidade sólida e real, independentemente do nosso corpo e nossa mente. Esse “eu” ao qual nos agarramos tão intensamente, que apreciamos de modo tão carinhoso e a quem devotamos toda a nossa vida para servir e proteger é meramente uma criação da nossa ignorância. E porque nos agarramos ao nosso “eu” como inerentemente existente, nos agarramos também ao eu dos outros como inerentemente existentes. E, então, geramos autoapreço, que instintivamente sente “eu sou mais importante e precioso do que os outros.

O agarramento a um “eu” não existente (pág. 115) e a ignorância de nos sentirmos mais importantes e preciosos do que os outros são as raízes da árvore do sofrimento; as delusões, como a raiva, ciúme e apego a algo temporário, são o tronco da árvore; as ações negativas que cometemos são os galhos; e o sofrimento e as dores desta vida, os frutos amargos da ignorância de nos sentirmos mais importantes e preciosos do que os outros.

O mestre (Gyatso) finaliza dizendo:
Ao entender como as delusões se desenvolvem, podemos constatar que autoapreço está no âmago da nossa negatividade e sofrimento.
Desconsiderando a felicidade dos outros e perseguindo egoisticamente nossos próprios interesses, cometemos muitas ações não virtuosas, cujos efeitos serão somente dor e sofrimento.


MEDITAÇÃO (ESCUTA, COMPREENSÃO e FAMILIARIDADE)

ESCUTA / ENSINAMENTO (1)
O verdadeiro criador de todo o nosso sofrimento e problemas é a nossa mente de autoapreço.


COMPREENSÃO / REFLEXÃO (2)
Se nunca tivéssemos nos envolvido em ações negativas, seria impossível experienciarmos quaisquer efeitos desagradáveis. Todas as ações negativas são motivadas por aflições mentais, seja a raiva, o ciúme, a intolerância, o apego...

Refletindo sobre esse ponto, compreendemos que controlar nosso autoapreço é algo muito valioso, mesmo que temporariamente, pois todas as preocupações, ansiedade e tristeza estão fundamentadas nele...

Precisamos abandonar nossa preocupação excessiva com nosso próprio bem estar, para que nossa mente possa relaxar e se tornar mais leve...

Pratique continuamente essa meditação e assim que essa sensação surgir procure retê-la em sua mente, dentro de seu coração, sem se distrair, por 3 minutos, e desenvolva a firme determinação de abandonar o autoapreço e de sempre apreciar todos os seres vivos, sem exceção.


FAMILIARIZAÇÃO / MEDITAÇÃO (3)
Procure alcançar um estado onde você abandona o ego e aprecia todos os seres vivos, sem exceção...
Se você se identifica com seu ego, você perde a oportunidade de se conectar com sua verdadeira natureza.

Nessa técnica, perceba-se como pura existência... Sem nome, sem endereço, sem fronteiras... Apenas um silêncio...
A experiência de ser ninguém é o sentido exato do nirvana, do silêncio absoluto, sem ego, sem hipocrisia;
Perceba que esta é sua imortalidade.

Assim que essa sensação surgir, procure retê-la em sua mente, dentro de seu coração, sem se distrair, por três (3) a vinte e quatro (24) minutos.

Ao terminar...
Tentamos levar esse “sentimento; sensação” conosco durante o intervalo entre as meditações.


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