Quando começamos a ver com clareza o que fazemos e passamos a perceber como somos fisgados e reagimos continuamente, nossa tendência natural é não valorizar nosso comportamento.
Em vez disso, devemos pensar como é admirável nos vermos com honestidade. Isso envolve, em essência, aprender a estar presente, com senso de humor, com uma gentileza afetuosa em relação a nós mesmos e às circunstâncias externas. Isso se baseia no conhecimento do nosso ego, sem preconceito.
O aprendizado de concentrar a atenção no momento presente é a base para conectar nossa cordialidade natural. É a base para amar a si mesmo e, também, para desenvolver a compaixão.
Quanto mais estiver presente com você mesmo, mais você será capaz de perceber contra o que todos nós lutamos. Assim como você, outras pessoas sofrem e querem eliminar o sofrimento. E, como você, elas agem de um modo que só agrava a situação.
Quando começamos a perceber a reação em cadeia do nosso apego e aversão às sensações agradáveis e desagradáveis, nos tornamos mais humildes e passamos a sentir mais simpatia pela confusão dos outros. Quando vemos alguém ser fisgado e se descontrolar, em vez de ficarmos automaticamente irritados, temos mais chance de reconhecer nossa semelhança e, consequentemente podemos perdoar.
Quando, durante o dia, você perceber que se perdeu de si mesmo - quando perceber que foi fisgado -, alegre-se por ter sido capaz de ter essa percepção, pois, então, poderemos reconhecer quando ferimos os sentimentos dos outros; será possível reconhecer o que estamos fazendo, em vez de sempre nos identificarmos com nossos erros.
Essa é a nossa capacidade inata de nos alegrar com o que vemos em vez de nos desesperarmos.
Devemos nos alegrar por sermos capazes de perceber nosso comportamento e de nos contermos; de parar e permanecer consciente do que está acontecendo no momento da ação. Mas, também, consciente de que haverá recaídas. Algumas vezes, é um passo à frente e meio atrás. E tudo bem...
Esse treinamento requer, acima de tudo, paciência e plena atenção. A jornada espiritual ideal precisa equilibrar a bem aventurança e a infelicidade. Se tudo for glorioso, um sucesso após o outro, ficaremos extremamente arrogantes e alienados em relação ao sofrimento humano. Por sua vez, se tudo for uma infelicidade e nunca tivermos insights nem sentirmos alegria ou inspiração, ficaremos tão desestimulados que desistiremos. Precisamos de equilíbrio, mas os seres humanos têm a tendência a enfatizar em demasia a infelicidade.
Em nossos dias comuns, temos momentos de felicidade, de conforto e de alegria, momentos em que vemos algo que nos agrada, ou que nos sensibiliza, momentos em que nos conectamos com nosso coração afetuoso. E podemos usufruir desses momentos.
Acho essencial observar, durante o dia, quando nos sentimos felizes ou quando algo positivo acontece, e começar a cultivar esses momentos preciosos. Aos poucos, passamos a apreciar o valor da nossa vida real, tal como ela é, com seus altos e baixos, seus fracassos e sucessos, sua rigidez e sua suavidade.
Para finalizar, o mestre (Trungpa Rinpoche) diz:
Devemos guardar a tristeza da vida em nosso coração, mas sem esquecer a beleza do mundo e a maravilha de estar vivo. Então, chegará um momento em que seremos capazes de sentir o coração dilacerado pelos nossos sofrimentos e de outras pessoas, mas sem nos deprimirmos.
MEDITAÇÃO (ESCUTA, COMPREENSÃO e FAMILIARIDADE)
ESCUTA / ENSINAMENTO (1)
Perceber o momento em que somos fisgados é o milagre da escolha de ser consciente.
COMPREENSÃO / REFLEXÃO (2)
Ao sermos capazes de reconhecer o que está acontecendo, sentiremos uma enorme alegria. Assim, poderemos dar o próximo passo e evitar seguir a velha estrada; algumas vezes, teremos sucesso, outras, não, mas devemos nos alegrar por termos conseguido interromper o impulso, o que já é um grande progresso.
FAMILIARIZAÇÃO / MEDITAÇÃO (3)
Então, nos próximos minutos, fique atento, e procure perceber o momento em que estiver sendo fisgado, apegando-se ou rejeitando qualquer pensamento ou sensação em seu corpo físico.
E, de repente, algo interessante pode acontecer – seu desapontamento por ter sido fisgado, torna-se uma semente de compaixão para com todas as pessoas que, como você, estão aprisionadas a uma mente fixa, controladora e um coração insensível.
Sinta a energia da compaixão florescendo em seu coração; criando espaços em sua mente... Sinta-se conectado a todos os seres, sem ser engolido pela culpa e pela vergonha dos resultados de suas ações.
E, então, repouse em sua mente natural
Assim que essa sensação surgir, procure retê-la em sua mente, dentro de seu coração, sem se distrair, por três (3) a vinte e quatro (24) minutos.
Ao terminar...
Tentamos levar esse “sentimento; sensação” conosco durante o intervalo entre as meditações.
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