A mente comum é o caminho

Chao Chao perguntou a Nan Chuan: “O que é o caminho”?
Há perguntas que podem ser respondidas e há perguntas que não podem ser respondidas. As perguntas que podem ser respondidas pertencem à ciência e as perguntas que não podem ser respondidas pertencem à existência – essas são as perguntas reais, porque estão enraizadas no próprio mistério da existência.
O que é o caminho?  Essa pergunta parece muito inocente, parece muito simples, mas é a pergunta mais impossível, pois caminho é um outro nome para “estado de ser”. E o estado de ser pode ser experienciado – e exatamente agora ele pode ser experienciado, não amanhã. Você está respirando nele, você é parte dele. Ele é a própria pulsação da sua existência. Ele pulsa no seu sangue. Ele é a sua consciência.
Ouça este momento de silêncio... Isto é ele! Mas não há nenhum modo de responder à pergunta “o que é o caminho?”. Ele só pode ser indicado.
Caminho é apenas uma palavra, não significa nada. É apenas um dedo apontado para o estado de vir a ser da existência. Os passarinhos piando, as árvores silenciosamente erguidas, e vocês todos deitados aqui em profunda comunhão, com tremendo amor em seus corações. Isto é ele! Mas isso não é uma resposta. O que é o caminho? O mestre (Nan Chuan) Respondeu: A mente comum é o caminho.

Nesse momento observe a sua mente... O que é a mente comum?
Quando não há nada na mente, quando você não está desejando nada, quando você não está pedindo por nada, quando não há perguntas na sua mente, nenhuma curiosidade, quando não há quaisquer sonhos agitando-se em sua mente, qualquer pensamento, qualquer memória, nenhum passado, nenhum futuro... Então a mente é absolutamente comum.
E nessa mente comum você experienciará o caminho, porque você experienciará o estado de ser (bem aventurança). É devido aos seus desejos, seus sonhos e à sua embriaguez com seus sonhos que você continua perdendo o que está sempre à disposição, aquilo que sempre o está confrontando, aquilo que você nunca perdeu por um único momento, aquilo que mesmo que você queira perder você não pode perder – trata-se da sua natureza intrínseca, a sua verdadeira natureza. Mas tantos pensamentos na sua mente criam uma nuvem ao seu redor, e o tráfego está sempre presente.
Observe o tráfego da mente e você se surpreenderá: nem por um único momento há um intervalo. E quando quer que haja um intervalo, há uma prova do sabor do caminho – o estado de ser (a bem-aventurança), e por um momento você se esquece de todos os pensamentos. Esse momento – o chamado para o despertar - é tão belo, tão penetrante – ele vai como uma flecha para dentro do seu coração. Por um momento tudo para... E subitamente você prova o sabor do caminho. Você o chama de beleza, porque você não sabe o que ele é. Sim! A beleza é um dos aspectos. Um pôr-do-sol... E todas as nuvens ficam douradas e o sol está pronto para cair no oceano, e todo o oceano tornou-se vermelho, e até a sua respiração para (dá uma pausa) por um momento. Tamanho espanto! Você o chama de espanto, porque você não sabe o que é – é um outro aspecto do caminho. Você vê uma linda mulher ou um lindo homem e, por um momento, você se esquece de tudo o mais. Seus olhos permanecem focados, sem piscar – você até esquece de piscar... Você pode chamar isso de beleza, forma, proporção física..., mas todos são aspectos do caminho.
Uma noite cheia de estrelas, você deitado na grama olhando para o céu, tomado por este esplendor, uma música - algo se agita muito fundo no seu ser – acontece uma sincronicidade e uma sutil dança surge em você. Você pode chamar de música, de poesia, mas essas sensações são outros aspectos do caminho.
Perceber e estar consciente de todos esses aspectos é a experiência mais rica do mundo. Conhecendo todos os aspectos do caminho, a própria pessoa se torna o caminho.  Porque quando você se torna familiarizado com esses aspectos, lentamente você se torna familiarizado com você mesmo, com seu Ser Verdadeiro – porque é também a dimensão interior do caminho. O pôr do sol e a música são partes da dimensão exterior. E a testemunha, a observação, a experiência do espanto, da beleza, do maravilhoso, da alegria e do amor são aspectos da dimensão interior desse Ser. Nesse momento, há apenas o estado de ser
Buda chamava isso de instantaneidade.
Não tente ser extraordinário de modo algum... – e é o que todo mundo tenta. Nós fomos educados desse modo, foi-nos dito sempre repetidamente pelos pais, professores, por todo mundo: seja o primeiro, seja especial!
Mas... O que é o caminho? A mente comum é o caminho...
Então, nesse momento, procure observar o movimento da sua respiração... O ar entra e sai das narinas de forma lenta, profunda e suave...
Observe a testemunha, observe a beleza, observe a alegria, observe o amor... Observe todos esses aspectos da dimensão interior do seu Ser...
Aprofunde sua percepção sobre si mesmo, sobre sua verdadeira natureza.


MEDITAÇÃO (ESCUTA, COMPREENSÃO e FAMILIARIDADE)
ESCUTA / ENSINAMENTO (1)
A mente comum é o caminho


COMPREENSÃO / REFLEXÃO (2)
O Mestre Zen não está dizendo nada de especial. Ele está dizendo: “A mente comum é o caminho... A mente que você já tem é o caminho” ... Você jamais a perdeu, você simplesmente se esqueceu disso. Ela ficou encoberta; você tem apenas de descobri-la.

O que todos nós precisamos é nos tornarmos mais sensíveis e com menos ego. E então acontece uma transcendência. Então, a vida se torna muito simples, descomplicada, mas tremendamente misteriosa. Neste estado não sobra nada. Não há nenhuma pergunta nenhuma dúvida. Há apenas espaço, vasta claridade e céu infinito.


FAMILIARIDADE / MEDITAÇÃO (3)
Procure, nesse momento, se esvaziar de todos os conteúdos da mente... E, como o céu, sem fronteiras, aberto por todos os lados, seja simplesmente um espelho – refletindo nada...
E, de repente, tudo é silêncio... Toda dualidade acabou... Passa a existir apenas uma testemunha silenciosa. E nesse estado experimentamos o despertar espiritual.

Assim que essa sensação surgir, procure retê-la em sua mente, dentro de seu coração, sem se distrair, por três (3) a vinte e quatro (24) minutos.

Ao terminar...
Tentamos levar esse “sentimento; sensação” conosco durante o intervalo entre as meditações.

Nenhum comentário:

Postar um comentário