A Segunda Nobre Verdade

Na última aula dissemos que a vida é difícil e que a dificuldade existe porque nos apegamos às coisas que são temporárias, que em algum momento irão se dissolver ou se separar de nós. Dissemos, também, que esta é a natureza da vida e a Primeira Nobre Verdade - que todos vamos experimentar altos e baixos na vida, não importa quem sejamos.
A Segunda Nobre Verdade nos diz que existe uma causa para as dificuldades (para a insatisfação) da vida (ou Dukkha), e que esta causa é o desejo – uma sede incessante e interminável, um desejo que não cessa.
Como todos nós desejamos consistentemente, sentindo fome e sede por um sem número de experiências, continuamos a sofrer. Não é que devêssemos nos livrar das coisas que desejamos. Os objetos do desejo não são o problema. É o nosso apego e a nossa identificação com o que desejamos que causa todo o sofrimento.

Um sutra (ensinamento) inteiro do Buddha ensina como podemos aprender a amar, a cultivar a bondade amorosa, a empatia e a consideração. O que o Buddha ensinou é que não deveríamos tentar possuir uns aos outros; nem deveríamos nos tornar tão identificados ou apegados a qualquer coisa (pessoa, pensamento, sentimento, carreira, meta ou objeto material) porque perderíamos de vista a realidade – a relatividade e a natureza impermanente de tudo o que existe.
Para compreender esse ponto, o porque que o Dharma ensina que a sede insaciável e o apego ao desejo causam os problemas de nossa vida, é preciso estar certo o bastante sobre como funcionam o Apego e o Desejo.
Você com certeza já ouviu alguém dizer: “Eu faria qualquer coisa para ter isso ou aquilo”, “Eu o(a) queria tanto que perdi a cabeça”. Perceba... O problema é que o desejo intenso assume o controle de nossa mente e de nossa vida. Ele assume o controle total.
Quantas horas do seu dia você gasta em uma atividade monótona, tentando obter o que pensa que necessita? Quanto de sua mente e de seu tempo são utilizados para fantasiar sobre as coisas que você deseja? É muito fácil passar muitas horas da vida obcecados com romance, carreira, dinheiro, amor não correspondido ou turbulento, passatempos, sexo ou prazer. Como uma nuvem escura, o desejo encobre a natureza espiritual, radiante e livre.
Em nossa cultura, quem pode resistir à insensata cobiça por prazeres sensuais, por riqueza ou poder? Existem tantos anúncios, tantos shoppings centers, tantos cartazes disputando nossa atenção. Você às vezes não se sente agredido pela quantidade de “próximas atrações” chamando a sua atenção? Todos os dias chegam catálogos pelo correio eletrônico. Como podemos olhar para eles sem imediatamente desejar os celulares, tablets, televisões gigantescas, os perfeitos casacos de inverno usados por modelos igualmente perfeitos e não desejar até mesmo os próprios modelos? O que podemos fazer com nossos desejos em um mundo onde somos encorajados a viver vidas de fantasia, nas quais estamos sempre investindo em um futuro incerto, esperando e desejando ser arrebatados e salvos por um salvador montado num cavalo branco?
Existe um antídoto (de uma única palavra) para este tipo de ânsia ou desejo: sabedoria - a sabedoria de estar livre dos desejos.
Os ensinamentos secretos do Tibete nos dizem que podemos redescobrir a nossa sabedoria inata, nossa percepção e a alegria interior, através de práticas espirituais, inclusive meditação, autoquestionamento, oração e o cultivo de nosso coração, que é naturalmente caloroso, sensível e amoroso. Sabedoria é a forma de transcender o desejo e transformar uma vida monótona em um adorável e inspirador passeio pelo jardim. Esta é a verdadeira liberdade.
Em uma passagem Buddha disse: “Aquele que neste mundo consegue vencer os desejos, tão difíceis de transcender, perceberá que o sofrimento flui como as gotas de água que caem de uma flor”.


MEDITAÇÃO (ESCUTA, COMPREENSÃO e FAMILIARIDADE)
ESCUTA / ENSINAMENTO (1)
“Não são os objetos externos que nos amarram. São os apegos internos que nos aprisionam” (Tilopa).


COMPREENSÃO / REFLEXÃO (2)
As pessoas que interpretam mal os ensinamentos do Buddha muitas vezes se preocupam com o fato de que se conseguirem se livrar de todos os desejos, não serão mais capazes de amar ou viver com paixão.
Na verdade, o oposto é verdadeiro. Nós ainda teremos nossos desejos saudáveis, mas agora eles não estarão contaminados e mal dirigidos devido a um desejo insaciável. O Buddha nunca ensinou que não deveríamos sentir amor. Na verdade, ele pregou o amor universal e a compaixão.


O Buddha foi alguém que, sendo desprendido das coisas, vivia em paz, vivia em alegria, vivia em liberdade, com um vigor suave e fresco. Ele tinha sempre um sorriso nos lábios e sua presença criava uma atmosfera suave ao seu redor.

O propósito deste exercício é gerar relaxamento, paz e alegria; é curar feridas do corpo bem como do coração e mente; é nutrir-nos enquanto crescemos na prática da alegria, nos habilitando para seguir em frente no caminho da prática.
Quando o praticante é capaz de pôr um fim à agitação, desejo e ódio, ele se senta na postura de meditação concentrando-se na respiração e sente uma sensação de relaxamento e liberdade. Como resultado, um sentimento de alegria emerge de seu corpo.


FAMILIARIDADE / MEDITAÇÃO (3)
Então, observe a sua respiração com Plena Atenção, enquanto recita esse gatha (verso):
Eu inspiro acalmando e pacificando todo o meu corpo;
Eu expiro sentindo Plena Alegria.

O sentimento de alegria que nasce quando toda a agitação de sua vida é dissolvida, se fortalecerá e penetrará mais profundamente quando você dominar a maneira de alcançar a plena quietude da mente...

Assim que essa sensação surgir, procure retê-la em sua mente, dentro de seu coração, sem se distrair, por 3 minutos (...).

Ao terminar...
Tentamos levar esse “sentimento; sensação” conosco durante o intervalo entre as meditações.

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