Carma

Nos dois últimos encontros estudamos sobre a preciosidade da vida humana e sobre a impermanência de todos os fenômenos. Vimos que, apesar de sua imensa liberdade, a vida humana é extremamente rara; no último encontro, falamos que por desconhecer ou não se lembrar que todos os fenômenos estão em constante mudança, as pessoas se apegam a coisas que não vão durar, se apegam a sensações que surgem, permanecem um tempo, e se dissolvem, causando tamanha angústia e sofrimento.
Hoje, ao estudar o carma, ficaremos mais consciente dos resultados de nossas ações.

Então vamos lá: imagine uma gaivota, descansando no solo... Perceba que sua sombra é projetada no chão. Quando ela voa, a sombra parece não existir mais, mas tão logo ela desça para descansar na terra, lá está a sombra mais uma vez. O que eu quero dizer é que os efeitos de nossas ações nos seguem como uma sombra - quer percebamos ou não.

Uma única semente produzirá uma árvore com muitos galhos, flores e frutos, e cada fruto conterá ainda mais sementes.
Uma pequena semente de raiva produzirá um grande sofrimento para nós mesmos e para os outros. Da mesma forma, mesmo um pequeno ato de generosidade ou compaixão produzirá uma grande felicidade.
Normalmente não sabemos o que acontecerá com as sementes que plantamos. Elas permanecem adormecidas na mente por um longo tempo e, quando nos esquecemos por completo que as plantamos, elas finalmente começam a brotar. Apesar disso, no final, elas vão dar frutos.
Pense nisso: em algum momento do passado, escrevemos um livro onde registramos cada um de nossos pensamentos, alegres ou tristes, raivosos ou agradáveis e, então, escondemos o livro e o esquecemos. Quarenta anos depois, o encontramos no sótão e começamos a lê-lo novamente. Não nos lembramos de ter escrito aquelas coisas. Ficamos totalmente absorvidos, como se esse livro tivesse sido escrito por um estranho. Quando lemos algo triste, choramos. Quando lemos algo alegre, sorrimos.
Da mesma maneira, experimentamos agora o que escrevemos carmicamente com nossos pensamentos, palavras e ações passadas. Esquecendo dos nossos pensamentos e ações passadas, poderemos nos sentir vitimados, com vontade de fugir do nosso drama. Mas somente poderemos mudar o rumo dessa história se o purificarmos.
De acordo com a natureza das nossas ações, passamos por ciclos de felicidade, infelicidade ou uma mistura dos dois. Esses ciclos são infindáveis, a não ser que transformemos a mente e despertemos para a iluminação.
Não prejudicar os outros é como não ingerir veneno. Ajudar os outros é como tomar um remédio.


MEDITAÇÃO (ESCUTA, COMPREENSÃO e FAMILIARIDADE)

ESCUTA (1)
Seja qual for o seu caminho espiritual, se você evitar prejudicar e tentar ajudar os outros, sua experiência futura, e daqueles que estão à sua volta, irá melhorar. 


COMPREENSÃO (2)
Se a mente perceber um objeto e permanecer em um estado de relaxamento, não criaremos carma.
Mas, em geral, a mente se envolve com os estímulos externos. Com o corpo, a fala e a mente, reagimos às circunstâncias externas com apego ou aversão. E fazemos isso a cada momento da nossa existência, vida após vida...
A todo instante, temos o potencial, ou para despertar, ou para nos perdermos nos movimentos da mente comum. Sempre temos essa escolha.
Em última instância, a mente nunca se separa de sua verdadeira natureza, mas os movimentos aparentes nos levam a uma identificação com a mente comum.
Paramos de criar carma quando chegamos a uma realização estável em que a expressão limitada da mente comum nunca está separada da sua natureza.


MEDITAÇÃO (3)
MEDITAÇÃO VIPASSANA

Observando sem reagir, você purifica a raiz da mente e elimina o sofrimento.
Reagir é o padrão habitual da mente; gera ódio, raiva, violência. Quando você não reage e só observe, começa a mudar esse padrão e elimina o sofrimento.

Leve sua atenção ao topo da cabeça e permaneça atento... Observe sensações que vão surgindo...
Toda sensação é uma manifestação da mudança; compreenda ser uma manifestação da lei da natureza - a lei da impermanência / mudança, mudança, mudança...

A partir do topo da cabeça, espalhe sua atenção pelo couro cabeludo e por todo o corpo parte por parte pedaço por pedaço... Observe qualquer sensação.

A seguir explore toda a superfície do rosto (testa, olhos, nariz, região do bigode, boca e queixo) com equanimidade, compreendendo a lei da natureza – mudança, mudança, mudança.
Depois do rosto continue a descer devagar, com plena atenção e explore unilateralmente (antigos simultaneamente) os ombros, braços, cotovelos, antebraços, punhos, mãos e dedos;

Não precisa sentir nada extraordinário. Observe as sensações que surgem naturalmente.
Comece da região da garganta e mova sua atenção para explorar toda a região do peito, costelas, barriga, púbis e órgão genital; volte a região da nuca...
Desça simultaneamente pelas costas – alto das costas, meio das costas, lombar, quadril e períneo; observando diferentes sensações com perfeita equanimidade;

A partir do quadril, mova sua atenção pelas coxas, joelhos, pernas, tornozelos, dorso dos pés, sola dos pés e dedos;
A partir desse ponto mova sua atenção dos dedos dos pés ao topo da cabeça.
Continue a compreender a lei da natureza. A natureza de todas as sensações é surgir e desaparecer, surgir e desaparecer – mudança, mudança, mudança...

Observações:
1- Em cada rodada, tome cuidado para não ignorar nenhuma parte do corpo e nenhuma sensação. A sensação pode ser agradável, desagradável ou neutra.
2- Mova-se constantemente; não fique parado em nenhuma parte do corpo. Assim que sentir uma sensação mova-se para outra parte do corpo. Se não sentir nenhuma sensação, permaneça por 1 minuto e siga movendo-se.
3- Se não sentir sensação não fique decepcionado ou triste, porque, desse modo, você perderá a equanimidade da mente.
4- Vai chegar o momento, agora ou no futuro, que você vai sentir sensações por todo o corpo, mas para tanto precisa desenvolver a sua consciência.
5- Reagir é o velho hábito da mente. Aprenda a observar sem apego ou aversão, compreendendo que tudo é impermanente sejam sensações agradáveis ou desagradáveis.
6- Trabalhe com inteligência, entendendo a técnica e você vai conseguir; você vai conseguir.
 

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