A Yoga como abordagem complementar na terapia do câncer

DHAMMA VINAYA ESCOLA DE YOGA
CURSO DE FORMAÇÃO DE INSTRUTORES DE YOGA

Cheyla Raquel L. Freitas Arkan
Carlos Eduardo Bonacossa de Almeida
Andréa Martins Jorge Henriques de Vasconcelos


A YOGA COMO ABORDAGEM COMPLEMENTAR NA TERAPIA DO CÂNCER



Trabalho de conclusão do Curso de Formação
de Instrutores de Yoga, como requisito parcial
para a obtenção do diploma de Instrutor de
Yoga em 2020 da Escola de Dhamma Vinaya
de Yoga.


Orientador: Guilherme Jennè e Monica Vidigall


RIO DE JANEIRO/2021




Resumo

O câncer é a segunda principal causa de morte da população mundial. A nível global, uma em cada seis mortes são relacionadas ao câncer. A sua incidência é crescente no mundo em decorrência de fatores  como o envelhecimento da população bem como na ocorrência de fatores de risco, principalmente os associados ao desenvolvimento socioeconômico. Embora novas técnicas terapêuticas tenham sido desenvolvidas, o diagnóstico e o tratamento do câncer são de uma forma geral agressivos causando diferentes efeitos indesejáveis e incômodos ao paciente. Para mitigar esses efeitos um conjunto de terapias complementares às tradicionais têm sido introduzidas, sob a denominação de terapias integrativas, sendo que muitas delas atuam, sobre o eixo corpo-mente. A yoga compõe essa lista dessas terapias. Muitos estudos têm sido realizados visando enumerar os efeitos benéficos da prática da Yoga,
como terapia complementar contra o câncer, assim como elucidar os mecanismos biológicos envolvidos nesses efeitos. A partir de uma pesquisa na base de bibliográfica mais importante na área da saúde no mundo, o Pubmed, foi realizado um resumo dos trabalhos publicados nos últimos 5 anos sobre ouso da  yoga como terapia complementar ao tratamento convencional contra o câncer. Com base na pesquisa realizada podemos afirmar que a prática da yoga traz benefícios claros para os pacientes em tratamento contra o câncer e para aqueles que superaram essa doença com sucesso.


Abstract

Cancer is the second leading cause of death for the world population. Its incidence is increasing worldwide due to factors such as the aging of the population as well as the occurrence of risk factors, especially those associated with socioeconomic development. Although new therapeutic techniques have been developed, the diagnosis and treatment of cancer are generally aggressive, causing different undesirable and uncomfortable effects to the patient. To overcome these effects, a set of complementary therapies to traditional ones have been offered to the patients. They are named integrative therapies and many of them act on the body-mind axis. Yoga practice is on the list of these therapies. Many studies have been carried out to enumerate the beneficial effects of Yoga practice as a complementary therapy against cancer. The studies also aim to elucidate the biological mechanisms involved in these beneficial effects. Based on a search in the most important bibliographic database in the health area, Pubmed, we review the works published in the last 5 years on the use of Yoga as a complementary therapy to conventional cancer treatment. As a result of this bibliographic revision, we can conclude that the practice of Yoga has clear benefits for patients undergoing cancer treatment and for those who have successfully overcome this disease.


Sumário
I - INTRODUÇÃO 
I.1 - Considerações iniciais 
I.2 - A yoga 
I.3 - A yoga como terapia integrativa 
I.4 - Objetivo 
I.5 – Justificativa 
I.6 – Metodologia 

II – DESENVOLVIMENTO 
II.1 – Apreciação dos achados sobre a utilização da yoga como terapia
complementar durante e após o tratamento do câncer.

II.2 – Apreciação dos possíveis efeitos adversos à utilização da yoga como
terapia complementar durante e após o tratamento do câncer.

III – CONCLUSÃO

IV – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


I - INTRODUÇÃO
I.1 - Considerações iniciais
Dados epidemiológicos da OMS (Organização Mundial da Saúde) demonstram que o câncer está entre  as maiores causas de morbidade e mortalidade no mundo, atingindo 14 milhões de novos casos e 9,6 milhões de mortes relacionadas à patologia em 2018. Os tipos de cânceres mais comuns que levam a óbito são: pulmonar, hepático, gástrico, colorretal, mama e esôfago. (WHO, 2021) . Já no Brasil, devido a processos de urbanização, industrialização e desenvolvimento técnico-científico nos últimos anos, vem ocorrendo o processo chamado de “envelhecimento da população”. Neste novo cenário, há uma alteração no perfil de morbimortalidade brasileiro, com a diminuição da incidência de doenças infectocontagiosas e um crescente aumento das doenças crônico-degenerativas, se tornando estas um novo centro de atenção de problemas de doença e morte da população brasileira. Desta forma, doenças como o câncer estão cada vez mais em destaque como problemas importantes de saúde pública. Como prova disto, a estimativa de novos casos de câncer no Brasil em 2020 é de uma ocorrência de 626 mil novos casos, incluindo canceres de pele do tipo não-melanoma. Isto só demonstra a necessidade de novas políticas de prevenção, controle e tratamento para tal patologia (INCA, 2021) . Fatores de risco comportamentais, como alto índice de massa corporal (IMC), uso de tabaco, inatividade física, dietas não saudáveis e uso excessivo de álcool contribuem para a etiologia, progressão e resultados do câncer. Além disso, o estresse crônico e a depressão podem ter efeitos diretos e indiretos sobre o câncer, alterando a biologia e influenciando comportamentos. O diagnóstico e o tratamento do câncer também podem aumentar o sofrimento e causar sequelas biomédicas, como dor, distúrbios do sono, fadiga, náuseas/vômitos e imunossupressão induzida por quimioterapia (DANHAUER et al., 2017) .

Paralelamente à enorme evolução das diferentes técnicas terapêuticas farmacológicas para o tratamento dos diversos tipos de câncer, houve um intenso crescimento das abordagens terapêuticas não farmacológicas enquadradas no que se denominou medicina ou terapia integrativa. A medicina integrativa promove a melhoria das condições do paciente, tanto físicos como psicossociais, com benefícios relevantes tanto nos sintomas da doença quanto nos efeitos secundários das terapias da medicina tradicional.

I.2 - A yoga
A palavra yoga tem sua origem na palavra sânscrita yuj que significa união, comunhão e integração, que pode ser entendido sob vários aspectos inclusive o que nos interessa neste trabalho que é a integração da mente com o corpo do indivíduo (HERMÓGENES, 2019) . A yoga é um dos seis pontos de vista filosóficos do Hinduísmo, chamado de seis Darshanas (DEROSE, 2007) .

O mestre De Rose descreve minuciosamente, em seu Tratado de Yoga (DEROSE, 2007) , a origem e evolução da yoga, por ele definido, como uma filosofia prática que conduz ao autoconhecimento (Samádhi). As referências mais antigas aa yoga são encontradas na Upanishads que fazem parte das escrituras sagradas hindus, os Veda. Segundo De Rose, a yoga teve sua origem há mais de 5000 anos no seio da cultura chamada Dravídica, que floresceu ao redor do rio Indo, no território da atual Índia. Ao longo desses 5000 anos houve uma evolução até chegarmos ao chamado Yoga Moderno iniciado a partir do século VII d.C., ligado a escola filosófica do Vedanta. A partir do século XIX temos o surgimento da yoga chamado de contemporâneo (DEROSE, 2007), que pode ser dividido em cerca de mais de 100 tipos, segundo De Rose.

A prática da yoga pode incluir diversas atividades e técnicas orgânicas, bioenergéticas, emocionais e mentais entre outras. Essas técnicas incluem as físicas, respiratórias, vocalizações, mentalizações e meditações. Neste estudo resumiremos as atividades descritas sob a denominação de educação psicossomática, ou seja, a integração do eixo corpo-mente do indivíduo.

I.3 - A yoga como terapia integrativa
A prática da yoga, suas técnicas e atividades, estão incluídas na categoria de terapias integrativas tanto nos sistemas de saúde Brasileiro como Internacional (NHS, 2021; NIH, 2021; SUS, 2021) .
Inúmeros trabalhos científicos têm sido publicados com evidências dos benefícios clínicos relacionados à prática da yoga como terapia complementar de diversas patologias (DANHAUER et al., 2017, 2019; FIELD, 2011, 2016; RACHIWONG et al., 2015) . Visando investigar quais seriam os mecanismos que poderiam sustentar a melhora clínica de pacientes que utilizam essa terapia complementar, muitos autores têm descrito a capacidade de modulação de respostas biomoleculares humanas após práticas que visam harmonizar o eixo corpo-mente (BURIC et al., 2017; FALKENBERG; EISING; PETERS,
2018; LONG PARMA et al., 2015) .

A yoga, teoricamente, se estende além dos elementos que a maioria dos estudos inclui (ou seja, movimento, respiração, meditação). Sua filosofia e abordagem mais amplas podem influenciar uma vida saudável como um todo, ou seja, escolhas alimentares, exercícios, propósito de vida, relacionamentos (DANHAUER et al., 2017; WOODYARD, 2011) . Na previsão dos Veda para a vida humana rotineira na Terra, o homem médio é motivado a encontrar um equilíbrio entre as necessidades espirituais e as demandas do corpo e a satisfazer os dois lados da balança (DEVAMRITA, 2019) , ou seja, a tão almejada saúde integral.

I.4 - Objetivo
Este trabalho tem por objetivo resumir os benefícios da yoga como terapia integrativa, complementar ao tratamento convencional contra o câncer, durante e pós-tratamento, publicado em artigos científicos nos últimos cinco anos, com foco em evidências que apoiam a eficácia dessa educação psicossomática (integração mente-corpo) nesse contexto.

I.5 – Justificativa
Nos últimos 20 anos, o número de publicações científicas numa das mais completas bases bibliográficas da área de saúde (https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov) sobre os termos “câncer & integrative medicine” subiu cerca de 100 vezes, tendo sido publicados aproximadamente 2200 artigos científicos no ano de 2020. Este fato reflete a importância que as “terapias integrativas” vêm alcançando no tratamento do câncer. Desta forma, uma avaliação atualizada sobre e eficiência alcançada pela terapia integrativa relacionada às atividades incluídas na prática da yoga pode resultar no maior comprometimento das autoridades de saúde bem como dos instrutores de yoga na introdução desse novo método terapêutico complementar.

I.6 – Metodologia
Foram feitas pesquisas na base bibliográfica PUBMED (https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/) nos últimos 5 anos com os termos “câncer e yoga” e consultas a obras literárias sobre a filosofia prática da yoga.


II – DESENVOLVIMENTO
II.1 – Apreciação dos achados sobre a utilização da yoga como terapia complementar durante e após o tratamento do câncer
Em uma análise global dos trabalhos encontrados na literatura foi possível notar que a implementação de um programa de terapia complementar, utilizando técnicas da yoga por instrutores qualificados para transmitir ao paciente uma técnica apropriada e prática regular, resultou em melhora de muitos sintomas relacionados ao câncer durante e após o tratamento, reduzindo o impacto de problemas (GALLIFORD et al., 2017) (DENG, 2019).
Entretanto, é preciso destacar que nos estudos publicados e revisitados neste trabalho foram ressaltadas algumas inconsistências e apontada a necessidade de pesquisas futuras para compreensão mais profunda dos benefícios potenciais e limitações da yoga, durante e após o tratamento contra o câncer,
como o que poderíamos denominar “remédio do eixo corpo-mente” (DANHAUER et al., 2019) .

As chamadas práticas Mente-Corpo, abordadas nos trabalhos pesquisados se concentram nas interações entre o cérebro, a mente, o corpo e o comportamento, com a intenção de usar a mente para melhorar a função física e promover a saúde. Desta forma, essas práticas, incluídas no hall das terapias de medicina integrativa levam benefícios para os pacientes em vários níveis e, uma vez incorporada, cuidadosamente, ao tratamento padrão contra o câncer, de uma forma geral, podem complementar e melhorar a qualidade do tratamento que os pacientes estão recebendo (DENG, 2019) . A prática de yoga têm sido cada vez mais reconhecida como uma abordagem complementar que pode diminuir a intensidade do início e da gravidade dos sintomas relacionados ao câncer e/ou tratá-los (DANHAUER et al., 2019).

A yoga, uma prática relacionada ao eixo corpo-mente é uma das modalidades complementares mais utilizadas entre homens e mulheres com câncer nos Estados Unidos para controlar efeitos temporários do Câncer.
Essas práticas mente-corpo realizadas de forma regular possuem um valioso efeito, pois é preciso entender que o câncer e suas consequências podem persistir por um prazo longo o que leva a um aumento da vulnerabilidade dos pacientes a outras doenças (DANHAUER et al., 2017) . Por exemplo, durante séculos, a yoga foi reconhecido como uma forma de exercício que pode proporcionar maior flexibilidade, gerenciamento do perfil lipídico, força e resistência para praticantes regulares (LONG PARMA et al., 2015).

Um programa de exercícios baseado em yoga de seis meses demonstrou ser uma prática importante a ser usada por pessoas que superaram o câncer com sucesso através dos tratamentos estabelecidos. Essa prática promoveu a melhora na qualidade de vida, autodeclarada por esse grupo de pessoas sendo que melhorias significativas foram observadas na redução do percentual de gordura corporal (LONG PARMA et al., 2015) . Estes mesmos autores também observaram melhorias significativas na composição corporal (perda de gordura corporal de 3%) para o grupo de yoga, quando comparados com um grupo que se submeteu a um programa abrangente de exercícios não relacionados a yoga e a um grupo de exercícios de comparação que escolheu seus próprios exercícios (LONG PARMA et al., 2015). Segundo os autores as razões para o uso da yoga entre os pacientes que sobrevivem ao câncer incluem: relaxamento; lidar com o sofrimento relacionado ao câncer; assumir um papel ativo e positivo na recuperação do câncer; gestão de condições não cancerosas (por exemplo, doença cardiovascular, artrite); e aumentar a energia, atividade física, imunidade e bem-estar geral.

Pesquisadores da The Ohio State University (KIECOLT-GLASER et al., 2014) também investigaram os benefícios da prática da yoga em pacientes que sobreviveram à batalha contra o câncer. Um grupo de 200 sobreviventes de câncer de mama que terminaram o tratamento nos últimos 3 anos foi aleatoriamente designado para 12 semanas de aulas de yoga duas vezes por semana ou para uma lista de espera para as aulas. Três meses após o término das aulas, a fadiga foi em média 57% menor no grupo de yoga em comparação com o grupo de não yoga, e a inflamação no corpo (medida por exame de
sangue) foi reduzida em até 20%.

Os ensaios clínicos não randomizados e randomizados com controle revisitados por Danhauer e colaboradores (2017), realizados com pacientes adultos e crianças que estavam em tratamento para a cura de qualquer tipo de câncer apontam consistentes melhoria para indicadores psicológicos como depressão, angústia, ansiedade. Em relação aos indicadores físicos e biomédicos, foram notadas evidências que sugerem cada vez mais que a yoga promove a melhora sobre o sono e a fadiga. Entre os adultos em tratamento de câncer, as evidências apoiam a recomendação de yoga para melhorar os resultados psicológicos, com potencial para também melhorar os sintomas físicos (DANHAUER et al., 2017).

Em trabalho recente Danhouer e colaboradores (2019) revisaram novamente ensaios clínicos com controle e randomizados, porém com pacientes durante o tratamento e após o tratamento para câncer de mama (DANHAUER et al., 2019) . No conjunto dos trabalhos analisados pelo grupo foram listados desfechos secundários positivos para o hormônio cortisol o hormônio do estresse, apontando uma ação calmante da yoga nos pacientes.

Neste estudo estão ressaltados, ainda, descobertas de benefícios em aspectos como cognição (por ex, dificuldades de memória, desorganização cognitiva, queixas cognitivas), linfedema, vitalidade/vigor e biomarcadores (por exemplo, inflamação, estresse/cortisol. Os resultados encontrados nos estudos, tanto durante quanto após o tratamento, evidenciaram um aumento global na qualidade de vida dos pacientes. Um achado importante foi o de que a fadiga foi o sintoma mais comumente avaliada entre os trabalhos, sendo a melhora neste sintoma reportada na maioria dos trabalhos. 

Apesar das limitações constatadas nos ensaios clínicos randomizados e da necessidade de pesquisas futuras, Danhouer e colaboradores (2019) concluíram que há evidências suficientes para apoiar os benefícios da yoga para os pacientes enquanto eles estão se submetendo ao tratamento do câncer e quando saem do ambiente médico para retomarem suas vidas.

A yoga melhora vários aspectos da qualidade de vida, sintomas específicos do câncer, resultados psicológicos e biomarcadores importantes, como regulação do hormônio do estresse, função imunológica e marcadores inflamatórios (BURIC et al., 2017) . Como uma intervenção segura e de baixo custo, a yoga deve ser fornecida juntamente com o padrão de tratamento para ajudar a melhorar os vários aspectos da adaptação dos pacientes ao câncer e seu tratamento.

Em estudo para determinar se a inclusão da terapia de yoga no tratamento de câncer de mama pode melhorar a qualidade de vida em seu aspecto psicossocial, foi relatado que estudos descobriram que pacientes envolvidos no programa de yoga tiveram pontuações mais altas em pesquisas de funcionamento emocional e social (GALLIFORD et al., 2017) . Estes autores apontam, ainda, que níveis reduzidos de depressão e sintomas depressivos estiveram presentes em todos os estudos que investigaram os benefícios psicossociais da terapia de yoga, sugerindo que a adição desta terapia complementar tem a capacidade de acelerar a redução da depressão e dos sintomas depressivos.

Interessantemente os autores recomendam a inclusão de membros da família como forma de reduzir barreiras para a participação em programas de yoga durante o tratamento do câncer. Na mesma linha de raciocínio, Danhauer e colaboradores (2017), sugerem a prática da yoga em casa aos pacientes de câncer com o objetivo de aumentar o acesso às aulas de yoga específicas. Há também a sugestão da inclusão de membros da família nas práticas para facilitar o recrutamento e a retenção de pacientes no programa, além de produzir melhora na saúde global e no bem-estar dos cuidadores (DANHAUER et al., 2017).

II.2 – Apreciação dos possíveis efeitos adversos à utilização da yoga como terapia complementar durante e após o tratamento do câncer.
Conhecer os possíveis efeitos adversos encontrados em qualquer protocolo terapêutico é extremamente importante visto que estes devem ser confrontados com os benefícios advindos desse mesmo protocolo para uma avaliação de risco/benefício. A yoga é uma prática com elevado perfil de segurança combinada com benefícios em nível físico, emocional e social, além de possuir um acesso de baixo custo. Essas características tornam essa prática terapêutica complementar muito atraente na redução de sintomas do paciente tanto durante quanto após o tratamento contra o câncer.

Vários estudos revisados não mencionaram efeitos adversos relacionados à adoção da yoga como tratamento complementar do câncer. Os poucos trabalhos que relataram efeitos adversos mencionam apenas dores musculares, articulares e eventuais vertigens (BOWER et al., 2012, 2014; CRAMER et al., 2015; KIECOLT-GLASER et al., 2014) . Esses efeitos não foram impeditivos à adoção terapêutica da yoga em pacientes da oncologia e muitos deles foram superados com tratamento farmacológico simples, quando não se extinguiram espontaneamente em curto prazo. Danhouer e colaboradores (2019) ressaltam que, como acontece em diversas áreas, resultados negativos de estudos clínicos tendem a não ser publicados, provocando a ausência desses achados em bases bibliográficas.

Estes mesmos autores indicam estudos onde resultados não significativos foram reportados, porém uma análise mais aprofundada revela falhas metodológicas como tamanho de amostras reduzidas. Outros fatores de incerteza encontrados nos trabalhos foram o uso de diferentes tipos de yoga pelos diferentes estudos dificultando a comparação entre eles, ausência de detalhes sobre a formação e especialização dos professores de yoga. Destaca- se que em muitos estudos a frequência e a duração das aulas de yoga variam substancialmente criando um desafio para o estabelecimento de um nexo causal entre a prática e os resultados obtidos (DANHAUER et al., 2019).


III – CONCLUSÃO
Sabemos que a yoga é uma prática mental e corporal milenar que se tornou cada vez mais popular na cultura ocidental. Nos países ocidentais, a yoga geralmente se refere a posturas (asanas), controle da respiração (pranayama) e / ou meditação. Pode-se dizer que a yoga, à parte de uma situação em que uma patologia esteja presente, proporciona um equilíbrio no modo de agir e pensar atuando no eixo corpo mente, pela promoção de uma educação psicossomática. Devido aos benefícios proporcionados aos praticantes, a repercussão positiva da yoga em aspectos motores, físicos, cognitivos, mentais, emocionais e sociais faz com que a yoga seja um método muito procurado para a melhora de diversos aspectos em indivíduos acometidos pelo câncer, bem como para pacientes de diversas outras patologias.

Os trabalhos publicados nos últimos cinco anos reúnem evidências claras e vastas de que a implementação da yoga como terapia complementar durante e após o tratamento do câncer pode trazer inúmeros benefícios para o paciente. É importante ressaltar que esses benefícios são bastante abrangentes alcançando as esferas psíquica, física e social, ou seja, atuam no ser humano de uma forma integral e integrativa.

Além disso podemos concluir que o uso da yoga, essa prática milenar, como terapia complementar é totalmente contemporâneo visto a importância que a sociedade, bem como a área médica, tem atribuído a humanização dos tratamentos de saúde. A yoga como terapia complementar pode promover este aspecto de forma patente como descrito em alguns trabalhos realizados. Neste sentido, um aspecto importante a ser observado é a visão do paciente como um ser humano com preferências pessoais e culturais que devem ser levadas em consideração. Pacientes que aceitam o tratamento complementar através da yoga, seja por afinidade cultural ou experiências positivas com essa tradição podem se beneficiar de forma extraordinária, com maior eficácia terapêutica e melhor qualidade de vida.


IV – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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______. Yoga reduces inflammatory signaling in fatigued breast cancer survivors: A randomized controlled trial. Psychoneuroendocrinology, v. 43, p. 20–29, 2014. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1016/j.psyneuen.2014.01.019>.

BURIC, Ivana et al. What is the molecular signature of mind-body interventions? A systematic review of gene expression changes induced by meditation and related practices. Frontiers in Immunology, v. 8, n. JUN, 2017.

CRAMER, Holger et al. Yoga and meditation for menopausal symptoms in breast cancer survivors - A randomized controlled trial. Cancer, 2015.

DANHAUER, Suzanne C. et al. Review of yoga therapy during cancer treatment. Supportive Care in Cancer, v. 25, n. 4, p. 1357–1372, 2017.

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DENG, Gary. Integrative Medicine Therapies for Pain Management in Cancer Patients. Cancer Journal (United States), v. 25, n. 5, p. 343–348, 2019.

DEROSE. Tratado de Yoga (Yôga Shástra). 46. ed. São Paulo: Egregora, 2007.

DEVAMRITA, Swami. Em Busca da Índia Védica. [S.l.]: The Bhaktivedanta Trust, 2019.

FALKENBERG, R. I.; EISING, C.; PETERS, M. L. Yoga and immune system functioning: a systematic review of randomized controlled trials. Journal of Behavioral Medicine, v. 41, n. 4, p. 467–482, 2018.

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GALLIFORD, Melissa et al. Salute to the sun: a new dawn in yoga therapy for breast cancer. Journal of Medical Radiation Sciences, v. 64, n. 3, p. 232–238, 2017.

HERMÓGENES, José. Autoperfeição com Hatha Yoga. 63. ed. Rio de Janeiro: Editora Best Seller LTDA, 2019.

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WOODYARD, Catherine. Exploring the therapeutic effects of yoga and its ability to increase quality of life. International Journal of Yoga, 2011.

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