Viver de forma natural

O ser humano pode viver de duas maneiras: a natural e a não natural. A não natural exerce uma grande atração, pois é uma forma nova de viver, ela não é familiar, ela é aventureira.
Jean-Paul Sartre, certa vez, disse: “o ser humano está condenado a ser livre”. Mas por que “condenado”? perceba... este é o êxtase e a agonia do ser humano, porque com a liberdade, surge a escolha – a escolha de ser natural ou não.

Quando digo que a pessoa pode viver naturalmente, quero dizer que ela pode viver com confiança – e natureza é isso. A pessoa pode viver com espontaneidade, sem ser um autor.
Natureza significa que não é para você fazer coisa alguma. Ela já está acontecendo. Perceba... Os rios estão fluindo – não que eles estejam fazendo algo. E as árvores estão crescendo... A árvore está florescendo em mil flores sem uma única preocupação, sem um único pensamento, sem nenhum plano. Ela está simplesmente florescendo! E isso é tão natural... Isso está na própria natureza das coisas. Tudo está simplesmente acontecendo! Você não precisa interferir.
A criança que cresce no útero da mãe não está fazendo coisa alguma. E estão ocorrendo milhões de coisas. A criança não está sentada naquela pequena célula, pensando, planejando, se preocupando e sofrendo de insônia. Não, não há ninguém.
Entender isso é entender Buddha – é entender que coisas podem ocorrer sem você jamais se preocupar com elas. (na verdade) As coisas já estão acontecendo, sempre! E, mesmo quando você se torna um autor, isso se passa apenas na superfície; no fundo as coisas continuam a acontecer.
Quando você está dormindo profundamente, você acha que está tentando respirar? Não! a respiração está acontecendo... E que bom, pois se as pessoas tivessem que ficar constantemente consciente do ato de respirar, ninguém jamais seria capaz de viver, nem mesmo por um único dia. Um momento e você se esqueceu... e a respiração se foi.
Perceba... Quanto está acontecendo dentro de você sem absolutamente você querer fazer?

Tente perceber isso... O fazer permanece na superfície. E o ser humano pode viver na superfície de uma maneira muito artificial, mas no fundo, no âmago, você é sempre natural. Sua artificialidade se torna simplesmente uma camada sobre a sua natureza. Porém, a camada se espessa (se engrossa) a cada dia – mais pensamentos, mais planos, mais atividades, mais fazer. Mais do autor, (percebeu?) mais do ego... E cresce uma casca. E esta é a casca que Buddha chama de Samsara – o mundo dos fenômenos.
O problema é que o fenômeno do autor – o fenômeno do ego -, faz com que você perca a natureza, faz com que você vá contra ela, se afaste dela. Um dia você se afasta tanto que começa se sentir sufocado. A vida passa a parecer sem sentido. Você se afastou tanto que surge a esquizofrenia em seu ser. Sua circunferência começa a se desconectar do centro. Esse é o ponto no qual você começa a procurar pela saída, no qual você começa a pensar: Quem sou eu? O ponto onde você começa a olhar pra trás: De onde estou vindo? Qual a minha face original? Qual é a minha natureza? Você se distanciou tanto do seu próprio ser (de sua essência) que agora é hora de voltar. Não tem jeito, você terá que voltar...
Todas as neuroses nada mais são do que isso – o seu afastamento do seu próprio centro. E a menos que você seja um ser desperto – um Buddha, você permanecerá insano.

(você já observou?) A pessoa se mantém sob controle, mas o medo está sempre presente: qualquer pequena coisa, a gota d’água – o banco que entra em falência, ou o seu parceiro vai embora com outra pessoa, ou o negócio não anda – e você não é mais são, você perde toda a sanidade. Essa sanidade que se vai tão facilmente deve ter sido apenas uma fachada, na verdade ela não existia.
A menos que você se torne um Buddha, um Cristo, ou um Krishna – e todos esses são nomes do mesmo estado de consciência, no qual o centro e a circunferência funcionam numa dança, numa sinfonia -... Então... A menos que surja a sinfonia, você continuará a ser um impostor, falso, arbitrário, e não alcançará sua bondade essencial.

Nos próximos minutinhos, volte sua atenção para dentro... Saia lentamente da superfície, deixe sua lista de tarefas, deixe seus sonhos, deixe toda a ilusão para trás...
E, nesse momento, alcance o centro... retorne ao centro... e encontre satisfação verdadeira (nesse modo natural de viver).


MEDITAÇÃO (ESCUTA, COMPREENSÃO e FAMILIARIDADE)

ESCUTA / ENSINAMENTO
O Ser humano vive de maneira antinatural; muito auto centrada, muito artificial.


COMPREENSÃO / REFLEXÃO
O ser humano pode viver na superfície numa maneira artificial, mas no fundo, no âmago, você é sempre natural.
Quando você vai contra a sua natureza, quando você se distancia de você mesmo - da sua bondade essencial -, somente então, um dia, a jornada de volta tem início. Quando você fica sedento por sua própria essência, você inicia o caminho de volta.
Então, a primeira coisa a ser entendida é que o ser humano pode escolher. Ele é o único animal na existência que pode escolher, que pode fazer coisas que não são naturais, que não deveriam ser feitas, que podem ir contra ele mesmo, que pode destruir a si mesmo e toda a sua bem aventurança; o ser humano é o único animal que pode criar o seu próprio inferno.


FAMILIARIDADE / MEDITAÇÃO
Tendo compreendido esse ponto...
Procure deixar a superfície e mergulhe fundo em seu espaço interior...
Não tenha medo... Deixe todas as suas máscaras caírem... O bom Pai, A boa Mãe, O bom marido, A boa esposa, O Profissional, O Belo, O Jovem, O Velho, O Forte, O Fraco... Deixe cair todos esses rótulos com os quais você se identifica nesse mundo de ilusão... E sem nada pra se agarrar, o que resta? A sua Bondade essencial...

Nas profundezas do seu ser encontre a resposta para a pergunta: “Quem sou eu”? “Qual a minha face original”? “Qual a minha natureza”?
Em contato com sua originalidade, sinta uma profunda bem aventurança...

Assim que essa sensação surgir, procure retê-la em sua mente, dentro de seu coração, sem se distrair, por três (3) a vinte e quatro (24) minutos.

Ao terminar...
Tentamos levar esse “sentimento; sensação” conosco durante o intervalo entre as meditações.

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