Tonglen I

De modo geral, quando nós trabalhamos as questões espirituais, nós trabalhamos as questões de transformação interna, e as questões externas são trabalhadas muitas vezes de uma forma difícil.

No nosso último encontro, começamos a estudar os ensinamentos sobre o despertar da compaixão. E a compaixão começa ao sermos amigos de nós mesmos, principalmente de nossas áreas mais confusas (ânsia, desejo, raiva, indiferença). O ensinamento sobre a compaixão nos mostra, por exemplo, que estamos todos completamente interligados.

Quando temos um vício e o satisfazemos, há um momento em que sentimos alívio. Então o pesadelo fica pior. O mesmo acontece com a agressividade. Quando dizemos umas boas verdades a alguém, podemos nos sentir bem por um tempo, mas, por alguma razão, nossa justa indignação e nossa raiva crescem e passam a nos machucar. É como pegar um pedaço de carvão em brava e atirá-lo no inimigo. Se conseguirmos acertar, as brasas vão feri-lo (certamente), mas, nesse meio tempo, com certeza nós também já nos queimamos.

Ao sermos bondosos em relação a nós mesmos, nos tornamos bondosos em relação aos demais. E ao sermos bondosos com os outros, também nos beneficiamos. Portanto, o primeiro ponto é que somos completamente interligados. Não esqueça! O que fazemos aos outros estamos fazendo a nós mesmos. O que fazemos a nós mesmos estamos fazendo aos outros.

Comece de onde você está. Isso é muito importante. A prática de meditação não se refere a mais tarde, em algum momento em que passarmos a compreender tudo e nos tornarmos alguém que realmente mereça respeito, não! Você pode ser a pessoa mais violenta do mundo – esse é um bom momento para começar. Você pode ser a pessoa mais deprimida, a mais viciada, a mais invejosa. Todos esses são bons momentos para começar. Exatamente onde você está – é daí que você deve começar.

À medida que praticamos Shamatha, seguindo nossa respiração e rotulando os nossos pensamentos, passamos a compreender a profundidade de simplesmente deixar que os pensamentos passem, sem rejeitá-los ou reprimi-los, apenas os reconhecendo como são: violentos, raivosos, cheios de desejo, carência ou aversão. São apenas pensamentos! Deixamos que eles se dissolvam e começamos a sentir o que restou. Quando não extravasamos ou reprimimos, paixão, agressividade e ignorância se tornam a nossa riqueza. O veneno, então, transforma-se em remédio. O mais interessante é que não precisamos transformar nada. Só é preciso deixar nossa história de lado, mas isso não é nada fácil.

O mestre vai dizer que
O toque suave, no momento em que reconhecemos o que estamos pensando e permitimos que se dissolva é a chave para nos reconectarmos com a riqueza que já possuímos. Com toda confusão, e qualquer que seja o tamanho dessa confusão, comece do ponto onde você está – não deixe para amanhã ou para mais tarde, quando você estiver se sentindo melhor. Comece agora mesmo onde você está.


MEDITAÇÃO (ESCUTA, COMPREENSÃO e FAMILIARIDADE)

ESCUTA / ENSINAMENTO
O que fazemos por nós – qualquer gesto de bondade e gentileza, qualquer traço de honestidade e clareza na forma como nos vemos, pode transformar toda a experiência. 

COMPREENSÃO / REFLEXÃO
O mestre vai dizer que
O que fazemos por nós estamos fazendo pelos outros e o que fazemos pelos outros estamos fazendo por nós mesmos.
Quando sentimos raiva e, ainda que justificadamente, culpamos os outros, quem mais sofre somos nós mesmos. Os outros e o ambiente também são atingidos, mas o nosso sofrimento é maior.
Temos o hábito de exteriorizar os nossos sentimentos porque, por ironia, achamos que isso vai nos trazer algum conforto – então reagimos com agressividade, com palavras que ferem. Medimos nossa reação com a felicidade momentânea que sentimos. Frequentemente há mesmo um certo bem estar momentâneo.
Por outro lado, quando deixamos de lado nosso contínuo drama e experimentamos sentir toda a confusão que atravessa a nossa história, descobrimos pouco a pouco, a suavidade que está por trás de toda aspereza (rigidez, de toda severidade).
Tonglen é isso: ele transcende o que é confuso e o que é claro, transcende o prazer e a dor. Ele começa a abrir espaço e ventilar o casulo em que nos encontramos.
Quer seja inspirando ou expirando, estamos abrindo o nosso autêntico coração compassivo.

FAMILIARIDADE / MEDITAÇÃO
A meditação Tonglen é dividida em quatro estágios. Hoje iremos trabalhar os dois primeiros estágios e, no próximo encontro, trabalharemos os quatro estágios. 
Nos próximos minutos
Primeiro estágio
Inspire e expire abrindo o seu coração
A cada inspiração e expiração procure ventilar o casulo onde você se encontra.
Procure sentir uma sensação de abertura... E repouse na natureza da essência.
Talvez você experiencie uma sensação de silêncio e espaço.

Segundo estágio
Agora visualize inspirar o que é escuro, denso, pesado e quente e expire claridade, leveza e frescor.
A ideia é inspirar sempre a mesma coisa: essencialmente estamos inspirando as causas do sofrimento, sua origem, a fixação ou tendência a nos apegarmos ao ego.

Esse será o nosso trabalho hoje
Inspiramos o que é escuro, pesado e quente por todos os poros, e irradiamos clareza, leveza e frescor também por todos os poros, em todas as direções.
Inspiramos e expiramos... Inspiramos peso e expiramos leveza; inspiramos escuridão e expiramos clareza.

Assim que essa sensação surgir, procure retê-la em sua mente, dentro de seu coração, sem se distrair, por três (3) a vinte e quatro (24) minutos.

Ao terminar...
Tentamos levar esse “sentimento; sensação” conosco durante o intervalo entre as meditações.

Nenhum comentário:

Postar um comentário