O caminho da não rejeição (TONGLEN)

Nos ensinamentos budistas, a Flor de Lótus e a lama são constantemente comparados com a natureza humana. A Flor de Lótus tem suas raízes na lama... ela cresce na água lamacenta até surgir na superfície e brotar em forma de uma flor espetacular que a todos nós encanta.
A Flor de Lótus representa a beleza e a pureza da nossa verdadeira natureza, ou seja, representa a nossa bondade essencial. Mas, e aquela lama nojenta? A lama simboliza tudo de negativo dentro de nós, tudo o que gostaríamos de nos livrar: nossa confusão, nossos hábitos destrutivos e, também, a nossa tendência de nos escondermos atrás de um coração fechado.

Contemplando esse ensinamento, podemos acreditar que deveríamos rejeitar a parte em nós que é lama em favor da parte em nós que é Lótus. Geralmente queremos nos livrar de sentimentos dolorosos, indesejáveis... queremos nos livrar de tudo que é nojento e manter apenas o que consideramos belo.

Mas os ensinamentos nos incentivam a ir além desses julgamentos limitantes e procurar manter um estado de mente livre de apego ou aversão; os ensinamentos nos incentivam a não ficar com nenhuma parte de nós mesmos.

Quando qualquer sentimento indesejado surgir, podemos respirar com ele, podemos permitir que ele nos toque. Não precisamos nos livrar da lama, mas colocar nossas emoções, pensamentos, problemas e questões em perspectiva (e observar...)

Nos prendemos ao prazer e ao conforto e rejeitamos a dor e o desconforto, ou seja, nos agarramos àquilo que desejamos e nos afastamos do indesejável. Não percebemos, mas, essas tendências, que em grande parte se baseiam em medo e confusão, impedem o despertar da nossa natureza bondosa inata.

Hoje, iremos praticar a técnica de meditação tibetana chamada TONGLEN, que significa “enviar e receber”. Com essa técnica radical, revertemos nossas tendências de buscar o prazer o tempo todo e rejeitar a dor e desconforto.

Nesse exato momento, muitos seres estão sofrendo os horrores da fome, da guerra, da doença, da morte e temos uma grande oportunidade de despertar o nosso bom coração - o desejo sincero de que todos os seres vivos se libertem do sofrimento.

Com a prática de TONGLEN, podemos nos abrir à nossa própria dor e desconforto, assim como nos abrir a dor dos outros seres vivos também. Afinal, medo é medo, tristeza é tristeza, raiva é raiva, ansiedade é ansiedade. Podemos chama-la de “minha” ansiedade, “minha” tristeza e por aí vai, mas na verdade são qualidades flutuantes que todos os seres compartilham.

Vamos aprender um pouco mais sobre essa técnica.
Como falei, essa técnica tem dois aspectos: enviar e receber
Ao praticar TONGLEN, nós coordenamos mente e respiração. Com cada inspiração nós recebemos, e com cada expiração nós enviamos.

Vamos falar um pouco sobre a inspiração (receber)
Quando você inspira a “sua” ansiedade (quando você recebe a sua ansiedade durante a inspiração), você está se abrindo para a ansiedade como um todo – o somatório da ansiedade deste mundo. Você pode inspirá-la... você pode relaxar com ela... e assim, livrar-se dela. E, ao mesmo tempo, despertando o bom coração, você pode desejar também que todos os outros seres se libertem de suas ansiedades.

Às vezes, quanto pior nos sentimos, mais profunda é a nossa prática de TONGLEN.
Quanto mais experimentarmos emoções dolorosas, mais claramente entendemos o que tantos outros seres estão passando. E essa compreensão aprofunda a nossa compaixão, faz com que desejemos remover a dor dos outros tanto quanto a nossa própria dor. E isso traz um profundo sentido a nossa vida.

Quanto mais compaixão tivermos pelos outros, mais poderemos sentir e aproveitar nossa bondade essencial. É por isso que as experiências adversas – se soubermos como encará-las sem rejeição – são os meios hábeis mais poderosos de promover o nosso despertar.

Para encerrar a introdução desse tema, vamos falar um pouco sobre a expiração (enviar)
Cada vez que expiramos, imaginamos enviar aos outros seres todas as coisas benéficas e prazerosas que normalmente desejamos para nós mesmos.
E esse aspecto de “enviar” enriquece as nossas vidas porque aumenta nossa compaixão e interesse pelos demais seres.


Então, sempre que você sentir algum desconforto, como raiva, tristeza, ansiedade e dor, lembre-se que essa é a hora de parar tudo o que estiver fazendo e praticar TONGLEN.


MEDITAÇÃO (ESCUTA, COMPREENSÃO e FAMILIARIDADE)

ESCUTA / ENSINAMENTO
Somente descobrindo a bondade inata tanto em nosso Lótus quanto em nossa lama, é que passaremos a ver a bondade inata de todos os seres vivos.


COMPREENSÃO / REFLEXÃO
O mestre vai dizer que:
Somente aprendendo a abraçar todos os aspectos de nós mesmos – até os elementos aparentemente mais negativos de nossos corações e mentes – é que aprenderemos a abraçar os outros de maneira total.
Nesse processo, nós nos libertamos de padrões muito antigos de egoísmo. E começamos a sentir amor, tanto por nós mesmos quanto pelos demais seres. Passamos a cuidar de nós mesmos e dos outros.
E começamos a nos conectar com a nossa verdadeira natureza.

Todo o nosso corpo pode irradiar a bondade essencial, e enviá-la a um número crescente de seres, até permear o espaço inteiro.


FAMILIARIDADE / MEDITAÇÃO
Nos próximos minutos, vamos praticar TONGLEN.
Essa técnica tem vários estágios: nós vamos começar do estágio mais simples, familiarizando a mente com a técnica, para mais a frente, praticar a técnica completa.

Iniciamos a prática assumindo a dor de alguém que amamos, que sabemos estar em sofrimento. Se sabemos de uma criança que sofre, por exemplo, inspiramos essa dor, desejando que ela se liberte totalmente do medo.
Ao expirarmos, enviamos felicidade, alegria, amor, ou qualquer coisa que lhe traga alívio.

Essa é a essência da prática: inspirar a dor do outro para que ele se sinta bem e tenha mais espaço para relaxar; e expirar, enviando-lhe relaxamento e aquilo que possivelmente lhe traga alívio.

ATENÇÃO:
Muitas vezes não conseguimos realizar essa prática, porque nos deparamos com nosso próprio medo.
Tudo bem, faça o seguinte:
Observe a sensação que você está sentindo nesse momento, seja medo, insegurança, raiva, impaciência... seja o que for... 
Inspire por todos aqueles que estão dominados pelas mesmas emoções que você, nesse momento, e expire alívio ou qualquer sensação que proporcione espaço para você e para as inúmeras pessoas que sentem a mesma coisa que você.

TERMINANDO...
A prática de TONGLEN reverte a lógica usual de evitar o sofrimento e buscar o prazer o tempo todo.
É uma prática maravilhosa que nos liberta do egoísmo.


Assim que essa sensação surgir, procure retê-la em sua mente, dentro de seu coração, sem se distrair, por três (3) a vinte e quatro (24) minutos.

Ao terminar...
Tentamos levar esse “sentimento; sensação” conosco durante o intervalo entre as meditações.

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