A natureza insatisfatória do ciclo da existência

O primeiro ensinamento do Buddha não foi sobre a felicidade. A primeira coisa que ele ensinou aos seus antigos companheiros de prática foi sobre a realidade do sofrimento. Por compaixão, ele quis mostrar aos seus amigos que a felicidade que buscamos é fugaz, é passageira, é transitória e que, por isso mesmo, não satisfaz. Por isso, continuamos correndo sem parar atrás de satisfazer o próximo desejo que vai nos deixar feliz de verdade. Por ignorância, não percebemos que a insatisfação já está embutida nessa felicidade – justamente por ser passageira. 
Lembra? Temos um desejo de adquirir um carro novo. Fazemos planos, investimos todo o nosso tempo e dinheiro para poder comprar o tal carro novo acreditando que seremos plenamente felizes com o carro novo. Não é assim que pensamos? “Ficarei plenamente feliz quando comprar o carro novo, ou o celular novo, ou quando me casar, ou quando me separar, ou quando tiver filho, ou quando mudar de emprego” ... E essa felicidade nunca é satisfeita. Por que será? Porque ela é passageira, gente!

Ao conseguir o carro novo, começa o sofrimento de ter que pagar as prestações do seguro porque “podem roubar o carro”; ou “não posso deixar o carro parado em qualquer lugar porque vão arranhar, vão sentar e vai sujar ou amassar o carro” ... e por aí vai... caramba, o pneu furou! O carro enguiçou, bateram no meu carro... tá trânsito e começa a ficar irritado! Ué, você esqueceu que seria plenamente feliz se conseguisse o carro novo? Que felicidade é essa que depende de condições? Então, Buddha vem e mostra que essa felicidade que depende de condições para existir, não é verdadeira. 

Mas, alguém pode estar pensando... O que é a verdadeira felicidade, então? A verdadeira felicidade é alcançar um estado de paz mental, independentemente de estar trânsito, de amassarem o carro, de roubarem o carro. E podemos ir além, a felicidade verdadeira independe de se estar com saúde, empregado, ter um companheiro... A verdadeira felicidade é um estado de paz mental. A boa notícia é que essa mente pode ser treinada, mas a má notícia é que treinar duas vezes por semana por trinta minutinhos não vai levar ninguém a esse estado mental. Da mesma forma que treinar musculação duas vezes por semana, por trinta minutinhos, vai te deixar com o mesmo corpo quando do início do treinamento, ou seja, não vai atingir o objetivo, e vai continuar se sentindo gordo demais, ou magro demais ou fraco demais. Com o treino da mente é a mesma coisa: se não treinar a mente adequadamente, dando continuidade, vai continuar se estressando e ficando com raiva sempre que for contrariado.

Buddha vai dizer que
O sofrimento ocorre quando queremos muito alguma coisa e não conseguimos obtê-la, ou quando temos algo que realmente queremos e perdemos.

Isso é apego! E o apego não é simplesmente desejar alguma coisa, mas não enxergar qualidades indesejáveis no objeto do apego (carro, celular, pessoa ou situação)
Quando confundimos uma pessoa com uma ficção – uma projeção da nossa mente -, podemos nos apaixonar pela maravilhosa ficção e depois de um tempo perceber que, na verdade, encontramos uma encrenca cósmica personificada. O resultado é nos decepcionarmos achando que a pessoa mudou.

Por que sofremos? Porque nos identificamos com o corpo, porque nos fixamos às nossas identidades construídas ao longo da vida, e porque nos identificamos e nos apegamos ao “eu”.
A chave está dentro de nós...


MEDITAÇÃO (ESCUTA, COMPREENSÃO e FAMILIARIDADE)

ESCUTA / ENSINAMENTO
Os estados de prazer, felicidade e gratificação que experienciamos dependem de funcionarem de um jeito que esperamos ou gostamos.


COMPREENSÃO / REFLEXÃO
A fonte de sofrimento é muito mais profunda e se deve as aflições mentais (medo, raiva, impaciência, aversão).
Se continuarmos seguindo os padrões habituais, tipo “eu gosto disso, então eu quero repetir essa experiência - eu quero isso pra mim pra sempre” ou “eu não gosto disso e não quero mais ver ou sentir isso”, não vai haver saída.
Continuaremos a criar confusão e sofrimento o tempo todo.
Como o mestre disse: a chave está dentro.


FAMILIARIDADE / MEDITAÇÃO
Então, nos próximos minutinhos...
Volte sua atenção para dentro...
Respire lento, profundo e suave inúmeras vezes, mas sem distração...
Acalme o seu coração e transforme a sua mente.
Alcance um estado de profunda paz, um estado de mente livre de todo apego ou aversão.
Sinta a paz...

Assim que essa sensação surgir, procure retê-la em sua mente, dentro de seu coração, sem se distrair, por três (3) a vinte e quatro (24) minutos.

Ao terminar...
Tentamos levar esse “sentimento; sensação” conosco durante o intervalo entre as meditações.

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